Pesquisar neste blogue

maio 17, 2011

Será que ele é? (Segunda Parte)


Em meu artigo anterior, teci críticas à propagação das listas de vegetarianos famosos como forma de argumentação contra a exploração, a matança e a comilança de animais. A rigor, não me detive em criticar a argumentação em si, mas sim em criticar aquelas pessoas que replicam tais listas sem verificar se as personalidades nelas elencadas são (ou foram) vegetarianas. Eu arriscaria dizer que, em pelo menos 80% dos casos, não passam de celebridades pseudovegetarianas.
No primeiro artigo, apenas como uma pequena amostra, recorrendo a fontes históricas confiáveis, mostrei por que razão pessoas como São Francisco de Assis, Albert Schweitzer, Albert Einstein, Charles Darwin, Thomas Edison e Benjamin Franklin jamais poderiam aparecer em listinhas de vegetarianos famosos. Na segunda parte, que apresento agora, será a vez de Aristóteles, Dalai Lama, Isaac Newton, Van Gogh, Beatles, Angelina Jolie e Brad Pitt.
Como diria o historiador Rynn Berry, em apêndice do seu livro “Famous Vegetarians and their favorite recipes”: “É uma tendência natural que alguém deseje incluir figuras admiráveis no seu grupo, mas, pelo amor de Clio, façamos algum esforço para ser factualmente acurados!”



Aristóteles
Por mais absurdo que seja, uma figurinha fácil nas listas de supostos ícones vegetarianos é o pensador grego Aristóteles (Estagira, 384 a.C. – Atenas, 322 a.C.). Digo “por mais absurdo que seja” porque qualquer pessoa que conheça o mínimo de filosofia jamais poderia imaginar o pensador macedônio como alguém que se opusesse ao abate e consumo de animais. Vejamos o porquê.
O pensamento acerca da relação entre o ser humano e as outras espécies de animais é marcado por uma clara dualidade: de um lado, erguem-se as vozes que defendem a utilização dos demais animais pelo homem, de maneira menos ou mais exploratória, mas sempre justificada por uma diferença de status moral entre “nós” e “eles”, sendo, assim, o nosso ato de comê-los plenamente justificado; do outro, aquelas vozes que advogam direitos morais básicos aos animais não-humanos, direitos tais como o direito à vida, à integridade física, à liberdade (e, é claro, uma consequência direta da observância de tais direitos seria nossa renúncia à utilização dos demais animais como meios para nossos fins, sejam esses fins quais forem, até mesmo gastronômicos). Essa dicotomia, a rigor, é uma herança filosófica helenística.
No século VI a.C., Pitágoras, filósofo e matemático, já falava sobre respeito animal em sua obra “Do consumo da carne”. Na realidade, Pitágoras atacou a matança de animais para alimentação e sacrifício por duas razões: porque, dizia ele, todos nós temos idênticas almas imortais, que podem transmigrar de uma espécie para outra (por isso, a justiça e a compaixão demonstradas a vacas e porcos são justiça e compaixão demonstradas a seres humanos) e também porque os animais são seres capazes de sofrer quando nós, humanos, infligimos maus tratos a eles.
Aristóteles, por sua vez, envidou enormes esforços para minar esses dois argumentos. Primeiro, ele argumentou que a alma não é uma entidade imortal distinta do corpo, mas é criada quando os elementos necessários para a vida se reúnem nas proporções e condições adequadas; e, quando esses elementos declinam ou o equilíbrio se desfaz, a alma deixa de existir. Em outras palavras, Aristóteles elaborou o equivalente antigo do argumento moderno de que vida e consciência são subprodutos dos processos eletroquímicos do organismo. Sendo uma função dos organismos que lhes deram origem, as almas de criaturas com diferentes tipos de corpos são, elas próprias, diferentes, e nem todas as almas são de igual valor. De fato, Aristóteles postulou uma rígida hierarquia dos seres com base no tipo de alma que possuem (a Grande Corrente do Ser ou escala natural). No nível mais baixo dessa escala, explicava Aristóteles, estão as plantas, que têm alma vegetativa, capazes de crescer e reproduzir, mas não conscientes. Depois, vêm os animais, que possuem almas capazes de sentir, de experimentar sensações físicas e emoções, capazes de resolver problemas simples da vida diária, tais como encontrar comida e escapar do perigo. No topo da escala, está o ser humano, o único com alma racional e, por isso, capaz de pensamentos abstratos, como ponderar o sentido da vida ou tentar definir coisas como bondade, verdade e beleza. Por fim, Aristóteles explicou que é uma lei universal da natureza que o inferior existe para servir ao superior. Assim, os animais, por terem uma forma inferior de alma, existem para servir os seres humanos. Ele resume sua posição desta forma:
“As plantas existem para o benefício dos animais, e alguns animais existem para o benefício dos outros.Aqueles que são domesticados servem aos seres humanos para uso e para alimentos; animais selvagens, também, na maioria dos casos, se não em todos, servem para nos fornecer não só alimentos mas também outros tipos de assistência, como o fornecimento de roupas e outros auxílios para a vida. Assim, se a natureza não faz nada sem propósito ou em vão, todos os animais devem ter sido feitos pela natureza em prol do homem.”
[ARISTÓTELES, Política, I, 8]
Aristóteles usava esse tipo de argumento para estabelecer também uma hierarquia entre os próprios seres humanos. Ele escreveu que o homem é superior à mulher, aos escravos e aos animais, e que era preferível para esses três últimos grupos estarem sob o governo de um mestre (um homem grego e livre, obviamente). Para defender, por exemplo, a escravidão, Aristóteles buscava “naturalizá-la” colocando-a em paralelo com a caça:
“A arte de adquirir escravos é diferente de ambas as ciências, e é como uma forma da arte da guerra ou da caça.(…) Por isso, também a arte da guerra será, por natureza, e num certo sentido, arte de aquisição (e, com efeito a arte da caça constitui uma sua parte) e ela deve ser praticada contra as feras selvagens e contra aqueles homens que, nascidos para obedecer, se recusarem a isso, e esta guerra é, por natureza, justa.”
[ARISTÓTELES, Política, I, 7 e 8]
Uma segunda linha de raciocínio proposta por Aristóteles para negar que nós, humanos, tenhamos deveres éticos para com os animais foi argumentar que a responsabilidade moral decorre do companheirismo (ou amizade) que existe entre os membros de uma comunidade. Como a amizade depende de interesses comuns, nós podemos ter amizade apenas com outros seres racionais; por conseguinte, considerava Aristóteles, não temos responsabilidades éticas com os animais.
Fica claro, portanto, que a esfera de consideração moral de Aristóteles era extremamente restrita, e os animais estavam, sem dúvida, fora dela, a uma distância enorme de seu centro (no qual estava, única e exclusivamente, o homem grego e livre).
Dalai Lama
Jetsun Jamphel Ngawang Lobsang Yeshe Tenzin Gyatso, décimo quarto Dalai Lama (monge e lama reconhecido por todas as escolas do budismo, além de líder e mentor do povo tibetano), é mundialmente famoso por possuir mais de cem títulos honoris causa, por ter recebido o Prêmio Nobel da Paz, por sua luta em prol dos direitos humanos em todo o planeta (especialmente no Tibete, dominado e oprimido pela China desde 1959), por ser, supostamente, a reencarnação do bodisatva da compaixão e também por apreciar uma suculenta carninha. Mesmo assim, sua fotinho sorridente marca presença em quase todas as listas de vegetarianos famosos.
Para descobrir que o bom e velho Tenzin Gyatso não é vegetariano, nem é preciso ir muito longe: basta uma rápida pesquisa em seu site oficial. Ali, podemos ler o interessante artigo “Um dia rotineiro de Sua Santidade o Dalai Lama”, no qual descobrimos que:
“A cozinha de Sua Santidade, em Dharamsala, é vegetariana. No entanto, durante as visitas fora de Dharamsala, Sua Santidade não é necessariamente vegetariano.”
O assunto poderia se encerrar por aqui; todavia, como é gostoso explicar tudo bem explicadinho e, confesso, me traz algum prazer estragar a festa dos vegetarianos menos rigorosos e que propagam informações falsas, vamos apreciar mais alguns textos interessantes sobre a relação de Tenzin Gyatso com a carne. Ainda no seu site oficial, encontra-se o artigo “Dalai Lama, o líder espiritual que não vai desacelerar”, de 2009. Nele, confirmamos que a personalidade em questão não se priva de comer carne, muito embora o texto dê a entender que Tenzin Gyatso é quase (bem quasezinho) vegetariano:
Ele se alimenta com uma dieta saudável e majoritariamente vegetariana, que ele mantém quando viaja o mundo pregando que o comprometimento e a não-violência são os preceitos fundamentais do budismo.”
É claro que uma dieta majoritariamente vegetariana não é o mesmo que uma dieta vegetariana, e é (ou deveria ser) igualmente óbvio que não existem semivegetarianos ou quase-vegetarianos assim como não existem semigrávidas ou quase-grávidas. Mesmo assim, a frase dá a entender que Tenzin Gyatso come carne raramente e sem lá muita gana ou vontade. Mas também não é bem assim.
No artigo “Dalai Lama se afunda na vitela e no faisão”, publicado em maio de 2007 no jornal “Journal Sentinel”, do condado de Milwaukee, no estado de Wisconsin, Estados Unidos, a jornalista Nancy Stohs conta como foi o jantar de recepção ao Dalai Lama na cidade de Madison, capital daquele estado:
Eis uma questão sobre a qual a maioria dos chefs nunca têm o privilégio de refletir:
O que servir para o Dalai Lama?
No caso da chef de Milwaukee Sandy D’Amato, a resposta foi vitela.
Vitela?
Apesar das expectativas de que um banquete vegetariano seria a ordem do dia, a equipe de chefs montada para cozinhar para Sua Santidade em sua recente visita a Madison não recebeu tal instrução, disse Catherine McKiernan, chefe executiva do Clube de Madison, onde o elaborado almoço foi realizado.
O Dalai Lama revela-se um amante das carnes.
E, portanto, o menu de cinco pratos servido para cerca de 60 pessoas em 3 de Maio, contando com o convidado de honra, sua comitiva e diversos cidadãos, incluiu peito de faisão recheado, a vitela de D´Amato, assada lentamente, com cogumelos escaldados e escarola, e uma sopa de aspargos com base decaldo de galinha. Um aperitivo de peixe curado, uma salada verde, uma entrada de grão-de-bico e berinjela e três grandes sobremesas de chocolate completaram o cardápio.
(…)
E o que Sua Santidade achou da comida?
Com todo respeito, “ele devorou”, disse D’Amato.
(…)
Ashley Walsh, de Los Angeles, filha de Jim Walsh e co-coordenadora do almoço, sentou na mesa do Dalai Lama.
Ele praticamente engoliu cada um dos pratos que foram colocados diante dele”, ela recordou. “Ele ama comida; ele adora boa comida.”
Mas por que a própria reencarnação da compaixão parece não se importar com o fato de estar ingerindo maciças doses de pedaços de bichos que foram explorados, torturados e mortos? No artigo “O Dalai Lama adora uma vitelinha”, publicado em 2007 no portal gastronômico Chow, a jornalista Christy Harrison apresenta algumas explicações:
Acontece que o Dalai Lama tentou o vegetarianismo estrito por um ano e meio em 1960 e desenvolveu hepatite, e foi quando os médicos o aconselharam a voltar para o seu onivorismo. (Ele foi criticado por algumas pessoas da comunidade vegetariana por ter sido um vegetariano nada saudável, podendo ter danificado o fígado dessa forma – ele se mantinha com uma dieta rica em gordura, composta principalmente por castanhas e leite –, e, portanto, a necessidade médica de seu consumo de carne foi questionada.)”
Qualquer pessoa bem informada sabe que se empanturrar de carne não ajuda a curar doença nenhuma, menos o Lama e seus seletos médicos. No Capítulo 9 do seu livro “Virei vegetariano e agora?”, o nutrólogo Eric Slywitch desmonta, impiedosamente, um grande número de mitos bobos acerca do vegetarianismo; um deles é, justamente, a ideia comum de que “a cura de certos problemas de saúde exige carne”. Sobre isso, afirma o médico:
“Não é verdade. Qualquer problema de saúde ou deficiência nutricional pode ser corrigida sem a carne. Se você é vegetariano e o mandaram comer carne por motivo de doença, desconfie. Há algo errado aí.”
Mas Tenzin Gyatso não desconfiou de nada, talvez porque não desejasse, de fato, ser vegetariano. Aliás, considerando-se sua falta de persistência em remover a carne do cardápio, não parece exagerado deduzir que sua compaixão nunca andou muito em alta e que ele gosta mesmo é de engraxar os beiços com gordura animal.
Com efeito, tendo como base nada mais e nada menos do que os princípios do budismo, o Lama não teria mesmo porque se importar muito com a deglutição de cadáveres, pois o budismo não coloca o vegetarianismo como um imperativo ético, o que só prova, aliás, como pode ser – e em geral é – míope a óptica religiosa sobre questões morais práticas (sei que muitos advogam que budismo não é religião, mas eu não estou nem um pouco interessado em invocar tal discussão, até porque, mesmo que não seja, isso não invalida a observação anterior, dado que ela seria igualmente pertinente se trocássemos a palavra “religiosa” por “transcendental”, “espiritual”, “mística”, “esotérica”, “crente”, etc.).
De fato, a posição dos líderes budistas quanto ao vegetarianismo é muito variada; porém, de maneira geral, é bastante flexível, dependendo, essencialmente, da linha de budismo adotada. No livro “Food for the Gods: Vegetarianism & the World’s Religions”, do historiador Rynn Berry, há um longo capítulo explicando tais vicissitudes, e eu recomendo que o leitor procure essa bibliografia para compreender o tema com maior profundidade. Todavia, para ilustrar a questão, vale a pena citar alguns trechos do artigo “O que o Buda disse sobre comer carne”, publicado no informativo da Sociedade Budista do Oeste da Austrália e escrito por Ajahn Brahmavamso, diretor espiritual dessa sociedade, conselheiro espiritual da Sociedade Budista do Sul da Austrália, conselheiro espiritual da Sociedade Budista de Victoria, patrono espiritual da Congregação Budista de Singapura e patrono espiritual do Centro Bodhikusuma em Sidney:
Desde o início do budismo, há mais de 2500 anos, os monges e monjas budistas têm dependido da comida que lhes é oferecida. Eles estavam, e ainda estão, proibidos de cultivar os seus próprios alimentos, de armazenar as suas próprias provisões ou de cozinhar as suas próprias refeições. Em vez disso, todas as manhãs, fariam a sua refeição diária a partir de tudo que lhes fosse dado livremente por leigos e adeptos. Quer se tratasse de alimentos ricos ou alimentos grosseiros, deliciosos ou horríveis, deveriam ser aceitos com gratidão, e a comida, considerada como um remédio. O Buda estabeleceu várias regras proibindo os monges de pedir a comida de que gostassem. Como resultado, eles receberiam exatamente o tipo de refeições que comiam as pessoas comuns – o que, muitas vezes, era carne. (…)
No entanto, existem algumas carnes que são expressamente proibidas para os monges: a carne humana, por razões óbvias, a carne de elefantes e cavalos, por estes terem sido então considerados animais reais; carne de cão – que era considerada nojenta pelas pessoas comuns, e a carne de cobras, leões, tigres, panteras, ursos e hienas – porque, pensava-se, aquele que tinha acabado de comer a carne desses perigosos animais selvagens deixaria o cheiro para trás, chamando a vingança dos animais da mesma espécie! (…)
Monges e monjas, podem comer carne. Mesmo o Buda comeu carne. Infelizmente, comer carne é, muitas vezes, visto pelos ocidentais como uma indulgência por parte dos monges. Nada poderia estar mais longe da verdade – eu fui um rígido vegetariano, durante três anos, antes de me tornar um monge. Nos meus primeiros anos como monge no Nordeste da Tailândia, quando eu corajosamente enfrentava muitas refeições de arroz pegajoso e sapo fervido (os ossos do corpo inteiro e tudo), ou lesmas de borracha, formigas vermelhas com caril ou gafanhotos fritos – eu teria dado qualquer coisa para ser um vegetariano de novo!
Em outras palavras, de acordo com certas correntes de pensamento budista, comer carne e coisas asquerosas pode até ser um caminho para a elevação espiritual.
Antes de concluir a presente seção, deixo a recomendação de um vídeo tão malicioso quanto esclarecedor que tem por sugestivo título “Dalai Lama: adorador de carne e os negócios de sua santa família” (ver referências). Nesse vídeo, nos seus primeiros 5min30s, a parte que interessa, são apresentados fartos indícios da predileção de Tenzin Gyatso por comer pedaços de bichos assassinados, incluindo reportagens sobre recepções oficias em que o velho Lama se fartou de carne e desdenhou de comida vegetariana; porém, o ponto alto é um depoimento do próprio senhor contando como ele, quando pequeno, cansado da comida vegetariana do mosteiro, disputava a unhadas, com seu pequeno irmão, na casa da família, um bocado do porco que o progenitor de ambos devorava. Há quem diga que esse vídeo é uma escrachada peça de propaganda do governo Chinês contra o Lama. Pode até ser. Contudo, independente das intenções de quem o produziu, não há como negar que, a partir de fatos concretos e imagens inquestionáveis, ele joga um cristalino balde de água gelada no mito do “Dalai Lama vegetariano”.
Isaac Newton
Sir Isaac Newton (Woolsthorpe-by-Colsterworth, 4 de janeiro de 1643 — Londres, 31 de março de 1727) foi um cientista inglês, mais reconhecido como físico e matemático, embora tenha sido também astrônomo, alquimista, filósofo e teólogo. Sua obra, “Philosophiae Naturalis Principia Mathematica”, é considerada uma das mais influentes na história da ciência. Publicada em 1687, essa obra descreve a lei da gravitação universal e as três leis de Newton, que fundamentaram a mecânica clássica. Sua segunda obra-prima foi o livro “Optics”, sobre a natureza e as propriedades da luz. Os trabalhos de Newton tiveram um impacto tremendo sobre a ciência, a humanidade e nossa forma de enxergar o universo. Como afirma Paul Strathern, professor de filosofia e matemática na Universidade de Kingston:
“Newton pode ser considerado o cérebro mais refinado que a humanidade produziu até hoje. (…)
Sua obra representa um avanço na evolução do nosso pensamento – um passo gigantesco para a humanidade. Muito antes de pousarmos na Lua (ou até mesmo de considerarmos essa possibilidade), a matemática de Newton preparava o caminho para essa façanha. Antes de Newton, a Lua era parte do céu, sujeita a leis celestiais desconhecidas que lhe eram próprias. Depois dele, tornou-se um satélite da Terra, mantido em órbita pela força da gravidade. A humanidade pôde, pela primeira vez, perceber como funcionava o conjunto do universo.”
Muitos boatos envolvem a vida de Newton. Um deles afirma que ele, antissocial, irascível e um tanto perturbado como era, teria morrido virgem. Outro reza que ele teria sido vegetariano. O primeiro pode ser verdade. O segundo é, certamente, falso.
Em texto escrito especialmente para o site da União Vegetariana Internacional, um colaborador desta entidade relata suas pesquisas sobre o assunto:
“Tem sido dito que Newton era vegetariano, embora nenhuma de suas biografias mencione isso; portanto, escrevi para seus biógrafos, perguntando se eles sabiam alguma coisa sobre isso. Eu recebi esta resposta da Dra. Patricia Fara, uma estudiosa de Newton na Universidade de Cambridge: ‘Eu ouvi o boato, mas as evidências dizem que ele comeu carne, exceto nos últimos cinco anos de sua vida, quando ele estava bastante debilitado e seguiu uma dieta leve que pode ter sido, talvez, vegetariana’.
Eu também recebi a seguinte nota do estudioso de Newton norte-americano Gale Christianson: ‘Newton tinha uma tendência a comer legumes e sopas quando ele era velho, mas não há nada que indique que era um vegetariano consciente em sua juventude e idade adulta.’
Por fim, James Gleick, o famoso autor de ‘Caos’, escreveu recentemente um livro sobre Newton. Perguntei-lhe se ele sabia sobre o rumor antigo de que Newton era um vegetariano. Ele respondeu: ‘O rumor iniciou-se com sua sobrinha, que disse que ele relutava em comer carne nos seus últimos anos. Bem, este é apenas um fato. Quase nada se sabe sobre o que Newton comia, exceto que ele não se importava muito com as refeições.”
Além disso, o site da União Vegetariana Internacional apresenta trechos de algumas obras antigas que falam um pouco sobre os hábitos alimentares de Newton. Mais uma vez, tais trechos não comprovam que o cientista britânico se opusesse, de maneira geral, à ingestão de carne ou sequer que, individualmente, se abstivesse dessa prática; reforçam tão somente o que já foi enunciado acima: que ele, preocupado com profundas questões da filosofia da natureza, ocupadíssimo em decifrar os mais densos mistérios do universo, não pensava muito a respeito do que comia. O primeiro trecho é um excerto do livro “Dieta vegetal: conforme sancionada por médicos e pela experiência em todas as idades” (1869), de autoria do médico e pedagogo estadunidense William Andrus Alcott (que foi, aliás, o primeiro presidente da Sociedade Vegetariana Americana):
“Diz-se que esse ilustre filósofo e matemático às vezes se abstinha rigorosamente de todo alimento que não fosse puramente vegetal e de todas as bebidas, exceto a água, e também se diz que alguns de seus trabalhos mais importantes foram realizados nesses períodos de estrita temperança. Ao escrever seu tratado sobre óptica, diz-se que ele se limitou inteiramente ao pão, com um pouco de vinho branco e água (…).”
Obviamente, “às vezes se abster” de produtos de origem animal não faz de ninguém um vegetariano; vegetariano é aquele que sempre se abstém de produtos de origem animal por convicção filosófica. O segundo trecho é uma nota de rodapé do livro “A ética da dieta” (1883), escrito pelo humanitarista e vegetariano inglês Howard Williams:
“Haller [Albrecht von Haller M.D. 1708-1777], fundador da fisiologia moderna, garante que ‘Newton, enquanto estava envolvido com o seu Optics, viveu quase inteiramente de pão, e vinho, e água’ (Newtonus, dum Optica scribebat, solo pœmé et aqua vixit). – Elements of Physiology, VI, 198.”
De fato, essas observações apenas afirmam o óbvio: que Newton, obstinado, rigoroso e concentrado como era, comia coisas fáceis de obter e manusear quando estava em processo de intensa produção intelectual, a fim de que nada desviasse sua atenção. No livro “Famous Vegetarians and their favorite recipes”, o historiador Rynn Berry afirma, em trecho do segundo apêndice à obra (intitulado “Por que Newton, Einstein, Edison e Schweitzer não eram vegetarianos”):
“Schweitzer [Albert Schweitzer, teólogo, músico, filósofo e médico alemão], de acordo com seus biógrafos, comeu carne pela sua última década de vida adentro; o mesmo para Isaac Newton, que sofreu de gota (a doença dos comedores de carne) e de desordens estomacais por toda sua vida.”
A gota é uma doença reumatológica, inflamatória e metabólica que ocorre com elevação dos níveis de ácido úrico no sangue e é resultante da deposição de cristais do ácido nos tecidos e articulações. Embora se dê muita importância à dieta rica em proteínas e gorduras como causa da gota, já se sabe que a dieta é responsável por apenas 10-12% do aporte de ácido úrico corporal. A maior parte do ácido úrico de nosso organismo é produzida por ele mesmo. Portanto, Berry não é preciso ao dar a entender que a gota é necessariamente uma doença de comedores de carne e que, portanto, sendo vítima dessa doença, Newton era um comedor de carne. É verdade, porém, que mudar hábitos alimentares faz parte do tratamento dessa doença, inclusive no que tange ao consumo de carnes. Segundo o “Portal das Doenças Reumáticas” (http://www.pdr.pt/), “os alimentos mais ricos em precursores do ácido úrico e que devem ser ingeridos com precaução são a carne de porco e de caça, vísceras de animais, charcutaria, conservas de peixe, mariscos, café, chá, chocolate e bebidas alcoólicas – sobretudo a cerveja”. E, ao que tudo indica, foi mais ou menos isso que aconteceu com Isaac Newton. Na sua obra “A vida de Isaac Newton”, escreve Richard S. Westfall, professor emérito do Departamento de História e Filosofia da Ciência da Universidade de Indiana:
“Nos cinco anos finais, a saúde de Newton começou a deteriorar a olhos vistos. Seu problema básico, talvez resultante de uma doença grave em 1723, era uma deficiência esfincteriana. Desse momento em diante, Newton passou a sofrer de incontinência urinária. Como a movimentação agravava esse incômodo, ele abriu mão de sua carruagem e mantinha-se sempre sentado. Deixou de jantar fora e pouco recebia em casa. Suspendeu por completo a ingestão de carne e se alimentava de consomés, legumes e sopas. Em janeiro de 1725, sofreu uma tosse violenta e uma inflamação nos pulmões. Um ataque de gota agravou ainda mais os problemas.”
Parece-me uma tremenda liberdade poética (para não dizer um grotesco absurdo) chamar de vegetariano alguém que, de vez em quando, ficava sem comer algo além de pão e água, por curtos períodos, e que, à beira da morte, sem alternativas, cortou a carne do cardápio para não agravar crises de gota e outras doenças.
Vincent Van Gogh
Vincent Willem van Gogh (Zundert, 30 de Março de 1853 — Auvers-sur-Oise, 29 de Julho de 1890) foi um pintor pós-impressionista holandês, considerado um dos mais importantes de todos os tempos, apesar de, durante toda sua atormentada existência, ter colecionado fracasso sobre fracasso, sobrevivendo em tremenda penúria. A sua fama póstuma cresceu especialmente após a exibição das suas telas em Paris, em 17 de Março de 1901. Van Gogh é considerado um dos pioneiros na ligação das tendências impressionistas com as aspirações modernistas, sendo a sua influência reconhecida em variadas frentes da arte do século XIX.
O genial pintor é também conhecido por situações pitorescas como ter cortado um pedaço da orelha com uma navalha (dando o naco de presente a uma prostituta) e por ser empedernido vegetariano, opositor da matança de animais. A parte da orelha é verdade; a parte do vegetarianismo não corresponde aos fatos.
A indevida presença de Van Gogh em incontáveis listas de vegetarianos famosos se deve a uma suposta afirmação que ele teria escrito em uma das várias cartas que trocou com seu irmão Theo:
“Desde que visitei os abatedouros do sul da França, eu parei de comer carne.”
Sites internacionais apresentam essa frase escrita em inglês: “Since visiting the abattoirs [slaughterhouses] of S. France I have stopped eating meat.” A fonte é citada vagamente, da seguinte forma: “Vincent van Gogh, em carta para seu irmão Theodore.”
A questão fundamental é: seria essa citação legítima? A maneira mais simples e confiável de verificar é consultar, diretamente, o repositório digital das cartas do artista, mantido pelo Museu van Gogh, de Amsterdam. Nesse arquivo, constam todas 902 cartas escritas e recebidas por Van Gogh que “sobreviveram” até os nossos dias, além de 25 notas esparsas, incluindo rascunhos de cartas não enviadas, bilhetes e cópias de alguns textos literários. Cada documento pode ser lido na língua original (dois terços dos textos foram redigidos em neerlandês e um terço em francês) ou na tradução para o inglês. Há, ainda, um eficiente mecanismo de busca por termos-chave que permite localizar todas as cartas em que conste uma determinada palavra.
Buscando termos como “abattoirs” ou “slaughterhouses”, nenhum resultado emerge. Quando se tenta a palavra “eating”, 50 resultados surgem. Nenhum corresponde à famosa citação. A maioria deles corresponde a trechos das cartas nos quais Van Gogh se queixa ao irmão Theo que tem comido mal (sem especificar o que exatamente anda comendo) para depois, na epístola seguinte, dizer que agora anda comendo melhor (sem, de novo, especificar o quê). Muito raramente, fala algo sobre “pão seco” ou que, em vez de comer, tem se mantido à base de café e bebidas alcoólicas. Uma dessas 50 ocorrências, no entanto, pode começar a nos fornecer algumas pistas. Nela, um trecho da carta 666 (de 22 de agosto de 1888), escreveu Van Gogh:
“Eu estou pintando com o deleite de um marselhês comendo bouillabaisse, o que não deve surpreender você quando se trata de pintar grandes girassóis.”
Bouillabaisse é um prato típico da culinária da França, comum na região do Mediterrâneo, especialmente em Marselha, que consiste de uma sopa ou guisado preparado à base de peixes brancos sortidos, filetes de peixe, vegetais e ervas aromáticas. Digamos que a metáfora escolhida por Van Gogh não é lá muito vegetariana; porém, também é lógico que ela não prova absolutamente nada a respeito do que ele comia ou deixava de comer. Alguém poderia argumentar que a comparação não é nada mais do que uma figura de linguagem e que seria bastante plausível um vegetariano dizer algo semelhante (eu mesmo poderia, em tese, afirmar que “escrevo com o prazer de um gaúcho comendo churrasco”). Todavia, alguém poderia contra-argumentar que um vegetariano ético e verdadeiramente consciente do horror e da indecência que é o holocausto animal jamais falaria algo assim, pois seria tão absurdo e asqueroso como dizer que “escrevo ou pinto com o prazer de um pedófilo abusando de criancinhas”. Por essa incerteza, temos aí, no máximo, conforme dito acima, um indício da “formatação mental” do pintor no tocante à questão de “comer ou não comer animais”.
O teste definitivo se dá quando se faz uma busca pela palavra “meat” no repositório digital das cartas de Van Gogh. Nesse caso, temos 18 resultados – e nenhum deles lembra, sequer vagamente, a suposta citação do artista sobre ter deixado de comer carne após visitar matadouros. A maioria das ocorrências se refere a passagens em que Van Gogh invoca e reflete sobre passagens bíblicas e textos religiosos, nos quais a palavra “meat” tem a acepção da carne em oposição à alma, a carne no sentido cristão. Em algumas vezes, porém, Van Gogh está falando de carne de açougue mesmo.
Em janeiro de 1882, Van Gogh se estabeleceu na cidade de Den Haag. Ali, no final desse mês, ele se envolveu com Clasina Maria “Siena” Hoornik, uma prostitua alcoólatra que já tinha uma filha de cinco anos e que estava grávida novamente. Em junho de 1882, “Siena” foi internada em um hospital em Leiden por causa de complicações no final da gravidez. Sobre isso, escreveu Van Gogh a Theo na carta 239 (de 22 de junho de 1882):
“Siena está em Leiden, mas eu não vou ouvir nenhuma notícia dela até que ela dê à luz. O que temos nós homens de significante em comparação com o terrível sofrimento que as mulheres devem passar no parto? Elas são nossos mestres quando se trata de dor, sofrimento, mas, em outras coisas, nós somos os vencedores. Até o último dia em que ela estava aqui, ela vinha me visitar regularmente e me trazia um pouco de carne defumada ou açúcar ou pão, os quais já acabaram, fazendo com que eu me sinta muito fraco.”
Em 02 de julho de 1882, Clasina deu à luz um menino. Van Gogh escreveu ao seu irmão Theo, contando sobre isso:
“Na sexta-feira, recebi uma mensagem do hospital em Leiden dizendo que Siena poderia ir para casa no sábado. Então, eu fui lá hoje, e voltamos juntos, e agora ela está aqui em Schenkweg – até agora tudo está bem, com ela e com o bebê. Felizmente, ela tem bom leite, o bebê está quieto. (…)
Eu acredito que você pode ver, por exemplo a partir do interesse que tiveram por ela o professor [Abraham Everard Simon Thomas, de professor de obstetrícia in Leiden] e a enfermeira-chefe, que ela é alguém por quem as pessoas sérias sentem simpatia, porque realmente é algo especial que eles a tenham mimado tanto. (…)
Nos dias em que ela sente mais sede do que fome, como muitas vezes acontece, ela deve tomar um copo de cerveja como um medicamento para estimular o apetite.
Ele [o professor] deu a ela a lista dos tônicos após tê-la consultado sobre as suas possibilidades. Eu também vou me ater ao que ele recomenda a este respeito. Carne é bom para ela, mas uma ou duas vezes por semana é o suficiente; na verdade, ela certamente não é necessária todos os dias.”
Na carta 801 (de 10 de setembro de 1889), Van Gogh relatou a Theo como andavam as coisas no asilo onde estava internado por causa dos seus surtos psiquiátricos:
“O tratamento dos doentes neste hospital é certamente fácil de seguir, mesmo em uma viagem, pois eles não fazem absolutamente nada, eles os deixam a vegetar na ociosidade e os alimentam com comida velha e ligeiramente estragada. E eu vou te dizer agora que, desde o primeiro dia, eu me recusei a comer este alimento e, até minha crise, eu não comia nada além de pão e um pouco de sopa, o que eu vou continuar a fazer enquanto eu permanecer aqui. É verdade que, após essa crise, o Sr. Peyron [diretor do asilo em Saint-Rèmy] me deu um pouco de vinho e carne, que eu aceito de bom grado nestes primeiros dias (…).”
Na carta 802 (de 18 de setembro de 1889), Theo, preocupado com a saúde do irmão, envia algumas dicas – entre elas, comer carne:
“Por que você fica trancado, e por que você não sai e toma ar fresco? Isso só pode fazer bem, enquanto que uma vida sedentária não é boa para você, você também deve comer carne.”
Fica claro, portanto, que Van Gogh comia carne – com pouca frequência, seja por falta de condições financeiras, seja porque não se importava muito com a própria comida, seja por não apreciar enormemente esse tipo de alimento. Mas comia. Um testemunho corrobora esse fato.
Do final de 1876 até maio de 1877, Van Gogh trabalhou em uma loja de livros em Dordrecht. Seu colega de quarto nesse período, um jovem professor chamado Görlitz, rememorou que Van Gogh se alimentava de maneira frugal. Em uma carta enviada para o escritor e psiquiatra Frederik Van Eeden, o qual preparava um artigo sobre Van Gogh para o extinto jornal holandês “De Nieuwe Gids” (“O Novo Guia”), edição de 01 de dezembro de 1890, Görlitz escreveu:
“(…) ele não come carne, só uma pequena porção aos domingos, e apenas depois de ser instado por nossa senhoria por um longo tempo. Quatro batatas com um resquício de molho e um bocado de verduras eram todo o seu jantar.”
Por mais boa vontade que se tenha, parece-me que é unanimidade (ou deveria ser) que quem come carne uma vez por semana (ou uma vez por mês, que seja) não é vegetariano, ainda mais quando assim procede por razões fortuitas, por frugalidade, por falta de oportunidade, e não por convicção filosófica. E é esse o caso de Van Gogh.
Casal Pitt Jolie
William Bradley Pitt (Shawnee, 18 de Dezembro de 1963) e Angelina Jolie (Los Angeles, 4 de Junho de 1975) são um casal famoso pela beleza, pelo talento nas artes dramáticas, por adotar crianças em países exóticos e pelo vegetarianismo compartilhado. Essa última informação, é claro, como de costume, não tem contraparte na realidade.
Comecemos com a instrutiva leitura do texto a seguir, um trecho do artigo “Angelina Jolie: a dieta vegana me deixou desnutrida”, publicado em 28 de agosto de 2010 no portal de artes e variedades “The Improper”:
“Angelina Jolie, que recentemente caiu sob o fogo cruzado das críticas por aparecer assustadoramente magra na estreia do filme Salt em Berlim, diz que sua dieta e seu segredo de beleza é a carne vermelha.
‘Eu brinco que um bife grande e suculento é o meu segredo de beleza’, disse Jolie, 35 anos, aos jornalistas. ‘Mas, falando sério, eu amo carne vermelha. Eu fui vegana por um longo tempo, e isso quase me matou. Percebi que eu não estava me alimentando suficientemente.’
Enquanto isso, o parceiro Brad Pitt está, supostamente, insatisfeito com o vício de Angelina em carne e prefere que os seus filhos comam uma dieta vegetariana.
‘Brad odeia ver as crianças comendo carne e ele está chateado com a quantidade de carne vermelha que Angelina consome’, disse uma fonte a um tabloide britânico em 2009.”
A declaração de amor de Angelina Jolie pela carne foi destaque em inúmeros veículos de comunicação ao redor do mundo, inclusive no Brasil, e deixou os vegetarianos mais bem informados bastante intrigados, não com o fato de Angelina adorar um bifão sangrando, mas sim com a alegação de ter sido vegana no passado. Quando exatamente foi isso? Lá pela década de 1990, quando ela ainda usava “todos os tipos de drogas”, conforme ela própria declarou para o jornal “The Sunday Times”? De fato, o que ela tinha era um distúrbio alimentar relacionado com drogas, distúrbio esse que – sua recorrente esqualidez não nos deixa mentir – volta e meia ressurge. Parece que, mais uma vez, estamos diante do clássico caso de confusão entre anorexia e veganismo.
Seja como for, mesmo que sejamos bondosos e engulamos a “prosopopeia flácida para acalentar bovinos” de Angelina, o fato é que, se algum dia ela renunciou à ingestão de animais, já não é mais assim. Além de amar um “bife grande e suculento”, a atriz, mais ou menos na mesma época das declarações acima mencionadas, resolveu discorrer sobre sua relação gastronômica com animais, digamos, mais “incomuns”. Disse ela ao jornal “The Sun”:
Eu gosto de aranhas e insetos e todas essas coisas, por isso não sou enjoada. Eu comi alguns nos meus dias no Camboja, então eu não tenho problemas com isso.”
Até este ponto, parece que estamos diante do seguinte caso: mulher comedora de carne, anoréxica, que busca disfarçar seu distúrbio alimentar invocando o veganismo, casada com um homem legitimamente vegetariano e convicto. Vejamos, por exemplo, o seguinte trecho, extraído do artigo “Angelina Jolie veta os argumentos contra carne do vegetariano Brad Pitt para com a sua prole”, publicado no “Daily Mail” em 18 de julho de 2009:
“Parece que, por esses dias, Brad Pitt e Angelina Jolie não conseguem concordar sobre nada.
O casal, que não é visto junto em público desde maio, anda discutindo sobre como criar sua prole.
Brad, 45 anos, que é vegetariano há décadas, quer que Angelina, 34 anos, e seus filhos deixem a carne – e isso tem provocado uma grande confusão doméstica.
‘Brad detesta ver as crianças comendo carne e fica aborrecido com a quantidade de carne vermelha que Angelina consome’, afirma alguém próximo ao casal.
‘Ele fala sobre os malefícios causados pelo gás metano emitido pelo gado e que a família deveria se tornar vegetariana, mas Angelia diz que isso nunca vai acontecer.’”
Para bom entendedor, meia palavra basta, e um bom entendedor, ao ler as linhas acima, começa logo a desconfiar de que a alimentação de Brad Pitt talvez não seja realmente vegetariana. Os indícios que inflamam a desconfiança são:
Primeiro: Quando uma matéria na imprensa afirma que alguém é vegetariano, esse alguém, na maioria dos casos, não é. Assim como a imprensa brasileira costuma, erroneamente, afirmar, por exemplo, que Fernanda Lima e Lucélia Santos são vegetarianas, não seria de se estranhar que a imprensa internacional errasse ao afirmar que Brad Pitt é vegetariano. Quando a imprensa afirma que alguém “não come carne”, normalmente, quando muito, trata-se de “carne vermelha” tão somente.
Segundo: Se o que a matéria afirma é verdade, Brad parece chateado com o fato de Angelina comer carne vermelha em grandes quantidades. Se ela comesse um peixinho de vez em quando, seria de mesma magnitude o aborrecimento do Sr. Pitt?
Terceiro: Se o que a matéria afirma é verdade, Brad parece discordar da ingestão de carne bovina por conta do seu impacto ambiental – e nada é dito sobre os outros tipos de carne. Se a motivação primordial de Brad para não comer carne é a grande emissão de gás metano dos rebanhos, que mal haveria em comer, no lugar do boi, um bocado de frango orgânico ou um peixinho?
A verdade começa a vir à tona quando pesquisamos mais a fundo. Um exemplo é a dieta que Brad adotou para ganhar músculos e queimar gordura durante o intenso preparo físico para atuar no papel de Aquiles no filme “Troia” (2004). Vejamos o seu cardápio diário:
Café-da-manhã: 6 claras de ovos, farelo de aveia com passas
Lanche da manhã: pão pita integral recheado com atum
Almoço: 2 peitos de frango, arroz integral e salada verde
Lanche da tarde (antes do treino): uma barra de proteína ou um shake de proteínas e uma banana
Após o treino: shake de “whey protein” (proteína do soro do leite) e uma banana
Jantar: peixe ou frango grelhado, arroz ou macarrão, legumes e salada.
Lanche da noite: shake de proteína ou queijo cottage com baixo teor de gordura
O golpe de misericórdia no suposto vegetarianismo de Brad Pitt é dado pelo próprio ator, em entrevista concedida ao chef inglês Jamie Oliver, no primeiro número da revista “Jamie Magazine”. Noticiando o lançamento da revista e a entrevista com o ator, veiculou a revista “People” em 2 de novembro de 2008:
“Brad Pitt e Angelina Jolie podem ser o casal mais quente de Hollywood, mas certamente as coisas não são tão quentes na cozinha.
‘Eu posso arrasar num churrasco de domingo, mas isso é o mais longe que meus talentos culinários podem ir’, disse Pitt a seu amigo o chef Jamie Oliver para a edição inaugural da ‘Jamie Magazine’.
E a melhor coisa que Jolie já preparou para ele? ‘Cereais’, diz Pitt.
No entanto, os astros não são acanhados quando se trata de experimentar alimentos de todo o mundo. ‘Eu comi grilos no Camboja, ouriços do mar na França, cabra na Etiópia e ostras das Montanhas Rochosas (testículos de boi) em Montana’, diz Pitt. ‘Angie e eu já fizemos curry de crocodilo enlatado.’”
Diante das evidências, resta aceitar que o talento e a exuberância física do casal Pitt Jolie nada tem a ver com a abstinência de produtos animais. Parece ser verdade que Brad se opõe ao consumo habitual e maciço de carne bovina por causa de seu impacto no meio ambiente, mas, entre adotar tal postura e ser vegetariano, há uma distância astronômica; quanto à sua esposa, bem, melhor nem comentar.
Os Beatles
Os Beatles. Os quatro de Liverpool. Os quatro reis do iê-iê-iê. Os quatro cabeleiras do após-calypso. Os quatro paladinos do vegetarianismo. Ops! Mais uma vez, parece que não é bem assim.
Muito se fala, a torto e a direito, aqui e acolá, especialmente no “mundo virtual”, sobre o suposto vegetarianismo que, além dos laços musicais, ligou o grupo formado por John Lennon (guitarra rítmica e vocal), Paul McCartney (baixo e vocal), George Harrison (guitarra solo e vocal) e Ringo Starr (bateria e vocal); todavia, como veremos a seguir, nem todos eles foram vegetarianos, sequer por períodos restritos, e aqueles que foram (ou são) jamais apresentaram grande convicção.
Tudo começou nos “loucos” anos 60, quando, através de George Harrison, o grupo musical foi apresentado à cultura indiana e ao Maharishi Mahesh Yogi, guru indiano fundador da meditação transcendental. Em fevereiro de 1968, os Beatles viajaram para a academia de meditação do Maharishi, no Himalaia. Sobre a estada por lá, as informações não são das mais precisas. Por influência do Maharishi, e durante as seis semanas em que estiveram na academia de meditação, os Beatles pararam de comer carne. Mas reza a lenda que nem tudo foram flores. Teria chegado ao conhecimento de Maharishi que os Beatles estariam usando drogas dentro de sua academia, e não houve mantra pessoal que tranquilizasse o bom e velho guru. Consequentemente, ocorreu um desentendimento entre ele e os discípulos de Liverpool, o que resultou na saída dos Beatles da academia de meditação. A partir daí, a relação de cada um dos integrantes da banda com o vegetarianismo segue um caminho particular. Por isso, como diria Jack, o Estripador, vamos por partes.
Comecemos por Ringo Starr, que sempre foi, entre os moços de Liverpool, o mais refratário à ideia de deixar de comer cadáveres. Assim diz o historiador Rynn Berry, em seu livro “Famous Vegetarians and their favorite recipes” (o qual, aliás, prudentemente, inclui apenas Paul e George entre os “vegetarianos famosos”):
“(…) Maharishi Mahesh Yogi estipulou como condição para ingressar em sua ashram (academia de meditação) que os Beatles deixassem de comer carne. E foi assim que George, Paul e John primeiramente se tornaram vegetarianos. O baterista Ringo Starr tentou por algum tempo, mas jamais conseguiu deixar de lado aquela clássica especialidade de Liverpool – peixe com batata chips.”
Já na biografia autorizada de Paul McCartney “Many years from now”, de 1997, o autor Barry Miles escreve:
Ringo era menos entusiasmado do que os outros para largar a carne, porque ele sofrera problemas de estômago devido a uma doença na infância. Quando os Beatles visitaram a Índia em 1968, uma das razões pelas quais Ringo voltou para casa mais cedo do que os outros foi porque ele não conseguia comer a picante comida vegetariana. (…) Na infância, Ringo passara longos períodos no hospital com peritonite e achou a comida apimentada demais para seu paladar.”
A partir daí, as informações parecem indicar que, lentamente, Ringo começou a se encaminhar para uma alimentação sem carne. No livro “The Beatles After The Break Up”, de Keith Badman, obra que busca compilar informações sobre a vida pessoal e a carreira de cada Beatle depois do término do grupo, lemos:
“Ringo foi questionado sobre sua dieta em dezembro de 1973 e respondeu: ‘Eu como carne duas vezes por ano. Na ‘noite das fogueiras’ (celebração tipicamente britânica, que ocorre em 5 de novembro e que comemora a prisão de Guy Fawkes, que, em 1605, aliado a outros conspiradores católicos, pretendia assassinar o rei Jaime I e todos os membros do parlamento), eu como uma salsicha e, no Natal, eu como um peru durante as festividades, porque é emocionante. Eu ando animado com o Natal. Então, esses são os dois únicos dias em que eu como carne.”
É claro que essa afirmação de Ringo sobre degustar apenas salsicha e peru poderia render três parágrafos de piadinhas infames, mas vamos deixar para lá. Em 23 de maio de 2006, em artigo veiculado pelo jornal Daily Post, Ringo afirmou que ele e a esposa Barbara Bach eram vegetarianos:
“Os jardins são parte do nosso patrimônio. Nós amamos os cheiros e as cores. Eu mesmo tenho um jardim e eu adoro o jardim, mas eu realmente não faço a jardinagem. Nós somos vegetarianos e nós cultivamos um monte de frutas e vegetais para nós mesmos. Na verdade, nós obtemos de nosso jardim 80 por cento do que comemos.”
Em 17 de janeiro de 2008, Ringo reafirmou seu vegetarianismo em entrevista veiculada pelo site espanhol de notícia e atualidades LaVanguardia:
“Aos 68 anos, Richard Starkey (o seu nome real) está melhor do que nunca e disse, divertindo-se, que encontra, nos exercícios, uma grande fonte de inspiração. ‘Eu estou bem em forma, mas custa muito esforço. Eu me exercito, controlo o que como e sou vegetariano. E muitas canções’, revelou, explodindo em riso, ‘aparecem quando eu estou fazendo exercícios nos aparelhos da academia. Tenho endorfinas musicais.”
Assim, parece que, entre a década de 70 e os anos 2000, Ringo foi reduzindo enormemente seu consumo de carne. Resta saber se Ringo realmente é vegetariano ou se pensa da mesma forma que provavelmente pensam aqueles 17,5 milhões de brasileiros que, recentemente, se autodeclararam vegetarianos em uma pesquisa do Ibope, isto é, pensa que é vegetariano quem gosta muito de comer vegetais e que come bem pouca carne (tipo duas vezes ao ano, vá lá). A incerteza permanece.
Quanto a John Lennon, invoquemos um trecho do artigo sobre ele no site da União Vegetariana Internacional:
“Voltando agora a John Lennon, sua dieta pelo resto da década de 1960 e ao longo da década de 1970 foi essencialmente vegetariana, apesar de ele ter, ocasionalmente, voltado a comer carne de vez em quando.
‘Eu não acho que os animais foram feitos para serem comidos e usados para fazer vestimenta. Temos recursos suficientes para fazer tais coisas sem eles. É ponto pacífico para mim que você não deveria comer o lixo tratado quimicamente com o qual a maioria das pessoas se empanturra. O problema é que a maioria dos vegetarianos não obtém proteína suficiente. Minha dieta é baseada em fubá, o pão que a Yoko faz, arroz e nada de açúcar. Usamos mel, se as coisas precisam ser adoçadas.’
May Pang, companheira de John durante sua separação de Yoko em meados dos anos 1970, disse que ‘ele também passava por fases alimentares – durante o período em que trabalhava no álbum Walls And Bridges,ele adorava quando eu, aos domingos, preparava um café da manhã em estilo totalmente britânico’ [que, normalmente, inclui bacon, salsicha e ovos].”
John e Yoko foram também macrobióticos, conforme explicaram a David Sheff, que os entrevistou em 1980 para a revista Playboy:
Sheff: Qual é a dieta de vocês, além de sashimi e sushi, barras de chocolate Hershey´s e cappuccinos?
LENNON: Nós somos majoritariamente macrobióticos, mas eu às vezes levo a família para comer uma pizza.
ONO: A intuição diz o que comer. É perigoso tentar unificar as coisas. Todo mundo tem necessidades diferentes. Nós passamos pelo vegetarianismo e pela macrobiótica, mas agora, como estamos em estúdio,nós comemos alguma junk food. Estamos tentando nos ater à macrobiótica: peixe e arroz, cereais integrais.”
Sim, John comia carne “de vez em quando”, e quem come carne de vez em quando não é vegetariano. Sim, John achava que vegetarianos têm dificuldade para conseguir proteínas. Sim, John não achava que os animais existissem para serem devorados, mas, como tantas outras pessoas, não estava real e intimamente convencido disso, a ponto de abdicar de pratos com carne em definitivo. Sim, John adorava sushi e sashimi. Ademais, é bastante improvável que a tal pizza que Lennon eventualmente comia com sua família fosse de tofu com tomate seco e manjericão ou que a junk food que costumava ingerir no estúdio consistisse em um hambúrguer de grão-de-bico com guacamole e um shake de leite de amêndoas com cacau. John Lennon, afinal, era um sujeito que experimentava várias “modas alimentares”, sempre sem radicalismos, abrindo exceções para todos os alimentos, inclusive cárneos, que lhe trouxessem prazer.
George Harrison parece ter sido o primeiro dentre os Beatles a flertar com filosofias e religiões orientais e, por tabela, com o vegetarianismo. Foi por iniciativa dele que os companheiros de banda embarcaram para o famoso retiro no Himalaia. Depois disso, George foi o único que não arredou pé do vegetarianismo, talvez porque tenha abraçado a tradição Hare Krishna e a ela permanecido fiel até sua morte, em 2001. George costumava justificar sua abstinência de carne com certa ingenuidade, manifestando uma total inversão de valores e pouca preocupação com a questão ética envolvida: “O que me fez repelir a ingestão de carne foi a ideia de estar matando animais. Mas a questão principal é que não é saudável e nem natural.”
Quanto a Sir Paul McCartney, recuso-me a repetir tudo o que já escrevi no texto “Paredes de Vidro Fumê”, publicado aqui mesmo no site Vista-se. Portanto, remeto os leitores a essa referência.
Conclui-se, então, que falar de “Beatles vegetarianos” não passa de uma imprecisão, uma generalização grosseira. De fato, durante o período em que a banda existiu, se algum foi vegetariano (e provavelmente ovolactovegetariano) foi só o George, em razão da ligação com religiões orientais. Alguns foram vegetarianos por certos períodos, com pouca convicção e firmeza; alguns retomaram uma alimentação sem carne (ou quase sem carne) mais adiante em suas vidas; nenhum jamais transcendeu o protovegetarianismo, isto é, nenhum jamais conseguiu abolir o consumo de todo e qualquer alimento de origem animal.
[Aqui, talvez, antes de concluir, caiba uma explicação: eu, pessoalmente, concordo com a corrente filosófica que, dentro do movimento, defende o uso da palavra “vegetarianismo” para descrever apenas uma alimentação isenta de produtos e subprodutos obtidos a partir de animais, cunhando-se a palavra “protovegetariano” para designar aqueles que não consomem carne, mas ainda ingerem coisas como ovos e laticínios. No entanto, o leitor deve ter percebido que, ao longo deste e do artigo anterior, fui obrigado a “flexibilizar” um pouco essa convicção pessoal e usar a palavra “vegetariano”, muitas vezes, no sentido corriqueiro, isto é, para designar o indivíduo que apenas não come nenhum tipo de carne. Se eu não o fizesse, seria óbvio que quase nenhuma das celebridades comumente presentes em listas de vegetarianos famosos se encaixaria na definição; assim, pretendi demonstrar que, em tais listas, nem mesmo comparecem protovegetarianos em número significativo. Por conseguinte, vegetarianos legítimos e veganos são ainda mais raros, praticamente inexistentes.]
Breves Conclusões
Nos dois (extensos) artigos que compuseram a série “Será que ele é?”, busquei mostrar que muitos comedores de carne famosos acabam indo parar em listas de ícones vegetarianos. Esse fenômeno ocorre pelas mais diversas razões: confusões históricas, falta de pesquisa por parte dos vegetarianos e, provavelmente, um bocadinho de má fé também. As personalidades aqui investigadas são apenas uma pequena amostra desse verdadeiro samba-do-crioulo-doido em que qualquer um é transformado em vegetariano, sem o menor critério de correção histórica. Seria possível escrever mais uns dez artigos como esses dois, buscando lançar luz sobre os fatos; todavia, a tarefa seria estafante. Falamos de São Francisco de Assis, Albert Schweitzer, Albert Einstein, Charles Darwin, Thomas Edison, Benjamin Franklin, Aristóteles, Dalai Lama, Isaac Newton, Van Gogh, Beatles, Angelina Jolie e Brad Pitt. Mas a bagunça, é claro, não se esgota por aqui. Com um mínimo de pesquisa, é fácil verificar que personalidades como Rousseau e Leonardo Di Caprio nunca foram vegetarianas; com relação a algumas outras, como Shakespeare e Conan Doyle, é difícil até mesmo imaginar de onde alguém pode ter deduzido seu suposto vegetarianismo. Resta, então, a esperança de que o movimento vegetariano e pelos direitos animais amadureça a ponto de não precisar invocar o nome de celebridades para chamar a atenção e conferir credibilidade para os seus argumentos, o que é ainda mais condenável quando tais celebridades, a rigor, não são (ou nunca foram) vegetarianas. Como? Hein? Hitler? Não, esse também não era, mas essa já é outra história…
Referências
  • Famous Vegetarians and Their Favorite Recipes: Lives and Lore from Buddha to the Beatles. Rynn Berry. Pythagorean Books, 1993.
  • The Longest Struggle: Animal Advocacy from Pythagoras to Peta. Norm Phelps. Lantern Books, 2007.
  • Ethical Vegetarianism from Pythagoras to Peter Singer. Walters e Portmess (ed.). State University of New York Press, 1999, pp. 259-260.
  • Site da União Vegetariana Internacional: http://www.ivu.org/
  • Food for the Gods: Vegetarianism & the World’s Religions. Rynn Berry. Pythagorean Books, 1998.
  • Virei vegetariano e agora? Eric Slywitch. Editora Alaúde, 2010.
  • Política. Aristóteles. Disponível em: http://classics.mit.edu/Aristotle/politics.html
  • Site oficial do Dalai Lama: http://www.dalailama.com/
  • Dalai Lama digs into veal, pheasant. Nancy Stohs. Disponível em: http://www3.jsonline.com/story/index.aspx?id=605615
  • The Dalai Lama loves him some veal. Christy Harrison. Disponível em: http://www.chow.com/food-news/2820/the-dalai-lama-loves-him-some-veal/
  • What the Buddha Said About Eating Meat. Ajahn Brahmavamso. Disponível em: http://www.urbandharma.org/udharma3/meat.html
  • Dalai Lama: Meat Lover and His Holy Family Business. Vídeo disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=GePFqfqGGTk
  • Newton e a gravidade em 90 minutos. Paul Strathern. Jorge Zahar Editor, 1998.
  • A vida de Isaac Newton. Richard S. Westfall. Editora Nova Fronteira, 1995.
  • Vincent van Goghthe letters. Disponível em: http://vangoghletters.org
  • Van Gogh: A self-portrait; Letters revealing his life as a painter. Seleção de W. H. Auden, New York Graphic Society, Greenwich, CT. 1961. 37–39
  • Angelina Jolie: Vegan Diet Left Me Malnourished. Samantha Chang. Artigo disponível em: http://www.theimproper.com/12076/angelina-jolie-vegan-diet-left-me-malnourished
  • Angelina Jolie diz que ser vegetariana quase a matou. Disponível em: http://www.clicrbs.com.br/especial/rs/donna/19,206,3023060,Angelina-Jolie-diz-que-ser-vegetariana-quase-a-matou.html
  • Angelina Jolie já usou “todo tipo de droga”. Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/variedade/atriz-angelina-jolie-ja-usou-todo-tipo-droga-402279.shtml
  • Angelina Jolie vetoes veggie Brad Pitt’s no meat plea for rainbow brood. Katie Nicholl. Artigo disponível em: http://www.dailymail.co.uk/tvshowbiz/article-1200663/Angelina-Jolie-vetoes-Brad-Pitts-meat-plea-rainbow-brood.html
  • Brad Pitt’s Troy Workout Routine. Artigo disponível em: http://www.300spartanworkout.com/articles/troy.php
  • Brad and Angelina: Perfect Hosts? Only If They Order Out. Ann Clark. Disponível em: http://www.people.com/people/article/0,,20243733,00.html?xid=rss-fullcontent
  • Many Years from Now. Barry Miles. Henry Holt & Company, 1997.
  • The Beatles: After the Break-Up 1970-2000: A Day-By-Day Diary. Keith Badman. Omnibus Press, 1999.
  • Ringo braves the weather to get ahead in the gardening stakes. Disponível em: http://icliverpool.icnetwork.co.uk/0800beatles/0050news/tm_objectid=17116556&method=full&siteid=50061&headline=ringo-braves-the-weather-to-get-ahead-in-the-gardening-stakes-name_page.html
  • Ringo Starr: “Pertenezco a los 60 y me encanta el ‘flower power’”. Disponível em: http://www.webcitation.org/5ppKBfYZl
  • The re-enchantment of the West: alternative spiritualities, sacralisation, popular culture, and occulture. Christopher Hugh Partridge. Continuum International Publishing Group, 2005.
  • Paredes de Vidro Fumê. Rafael Bán Jacobsen. Artigo disponível em: http://vista-se.com.br/redesocial/paredes-de-vidro-fume/
Fonte: Vista-se

Sem comentários: