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junho 06, 2010

Especismo????




Estive pensando esses dias...

A perspectiva especista sempre me desagradou. Achava o cúmulo dar tratamento diferenciado à humanos em detrimento dos animais. Porém, percebi algo de contraditório na idéia, quando estava pensando sobre a questão da superpopulação mundial. Formou-se um certo paradoxo irreconciliável entre partes, e estou em uma... situação filosófica difícil.

Costumo atribuir à enorme população mundial os prejuízos não só ao ambiente natural, mas também às condições de vida humana individual. A super-população contribui para a escassez de recursos, para o desemprego, para a proliferação de doenças, além de nos atingir por ferir a nossa tendência intrínseca ao territorialismo. Definitivamente, um espaço mínimo de distância do outro é necessário para a manutenção de nossa sanidade mental.

Dentro das análises de causas X consequências do tema, me revoltava enxergar o tamanho da irresponsabilidade que é continuar a seguir esse caminho, ou seja, continuar a planejar filhos dentro do panorama em que estamos vivendo. Não que eu seja a favor de negar esse direito às pessoas, mas creio que é o bastante ter UM filho. Se cada casal tivesse apenas uma criança, dentro de alguns anos a população mundial seria reduzida à metade.

Entretanto, sabemos que QUALQUER espécie com vantagem seletiva sobre as outras irá crescer em progressão geométrica até que os recursos se esgotem. Porém, sendo o Homo sapiens dotado de consciência, somos capazes de reverter a situação, pois, como somos capazes de tomar conhecimento dela antes de seu ponto culminante, podemos reverter o quadro.

É aí que mora a minha dúvida... O anti-especismo reza a cartilha da igualdade de direitos entre espécies. Partindo dessa premissa, então sou obrigada a inocentar o Homem quanto à questão de seu impulso proliferativo, visto que, como já comentei anteriormente, qualquer outra espécie faria a mesma coisa que nós: Iria se proliferar até o alimento acabar e a população começar a decrescer por conta da mortalidade causada pela fome. Gafanhotos não pensam que estão sendo tiranos e estão tirando o direito de outras espécies sobreviverem quando atacam plantações e as destroem por completo. E ninguém dirá por aí que gafanhotos são egoístas por conta disso...

Porém, se eu resolver considerar o Homem culpado pela proliferação irresponsável que super povoa o mundo, terei de admitir que nossa espécie tem algo de especial, visto que nenhuma outra teria atitude diferente. Se eu cobro do Homem uma postura responsável, estou admitindo que ele difere das outras espécies, e, portanto, que está além delas em termos de planejamento inteligente, e então, estarei admitindo a superioridade do Homo sapiens frente a outras espécies.

O problema do anti-especismo é que, embora essa perspectiva dê à todas as outras espécies igualdade de direitos, dá ao Homem uma carga muito maior de deveres e cobranças. Por quê? Não somos, por acaso, todos iguais? Por que não nos revoltamos contra todas as espécies animais e vegetais que são parasitas, tais como carrapatos ou a Cuscuta racemosa(cipó-chumbo), já que estas também se valem da vida de outros para que possam existir? Vamos gritar para formigas e vespas que elas são especistas, visto que utilizam outros insetos, como escravos! Nossa, como elas são más, egoístas e sem coração! *

Será que se qualquer espécie adquirisse nossa capacidade intelectual, por conta de uma mutação aleatória (que justamente por ser aleatória, como defendem os evolucionistas, pode ocorrer a qualquer momento), os indivíduos que a compõem não fariam exatamente o que fizemos?

Talvez esse surto de “miguxice” (argh!) animal seja apenas o resultado da procura racional de razões para que as pessoas possam expressar suas tendências misantrópicas sem parecer esquisito àquele que está com raiva do mundo (e admito que eu mesma me encontro nesta posição várias vezes)... O Homem costuma buscar no intelecto soluções viáveis para dar vazão a seus pulsos emocionais, que por serem instintivos, possuem cunho intrinsecamente irracional. Na sociedade em que vivemos hoje, onde o sentir não é valorizado, mas sim o pensar, cobramos de nós mesmos motivos concretos e racionais para explicar nossos pulsos emocionais. É aí que na maior parte das vezes caímos na confusão. E no engano. Afinal de contas, não é porque a lógica está correta que a conclusão também o será, pois tudo dependerá das hipóteses iniciais escolhidas para ordenar o sistema lógico. Se partirmos da utilização de premissas erradas, ainda que a teoria resultante esteja bem ‘amarrada’ ela não passará de um monte de mentiras amontoadas de forma elegante. Nada mais nada menos que um delírio extravagante.

Estou cada vez mais inclinada a achar que tudo isso não passa de vaidade humana, pois, ao longo da História, parece que o principal passatempo do Homem é apontar o dedo para os outros, para poder afirmar sua superioridade frente a outros Homens, num dia colocando na cruz os negros, no outro judeus, pagãos, gays, etc. Não estou me excluindo desse grupo. Se eu me encarar segundo esta perspectiva, vejo que também sou bastante vaidosa e metida a Dona-da-Verdade, pois volta e meia aponto meu dedinho para aqueles que ainda insistem em ter uma penca de filhos, só que hoje já não sei mais se somos tão culpados assim, visto que somos tão animais quanto qualquer outro, e talvez a tão falada ‘consciência humana’ não passe de pretensão antropocêntrica. Mas eu estou ideologicamente ‘fora de moda’ nas minhas ‘perseguições’. Hoje pseudo-ambientalistas crucificam os que não partilham de seus dogmas ‘vegangélicos’. É o up to date do momento... Uau! É crème de la crème ser militante da causa animal.
(Sempre achei que tudo que se populariza se denigre. Será que assistiram muito Walt Disney e ficaram românticos com relação à maneira como olham para a Natureza, achando que todo animal é “bonzinho”?)**

Então das duas uma: ou me declaro anti-especista e usufruo de todos os direitos que os militantes da causa propõem aos animais, ou me declaro especista e me trato como um ser à parte dentro do ecossistema. Se declarar anti-especista e cobrar do Homem deveres que os animais não tem é constituir uma falácia.

Me pergunto, e amanhã, o que vai ser? Quem será o culpado dos males do mundo, o perseguido? A impressão que tenho é que mesmo nesta sociedade tão intelectualizada, lógica e racional em que vivemos, as pessoas nunca deixaram de acreditar no diabo. Ele só foi mudando de nome e forma ao longo do tempo... Hoje, se chama Homem.

De volta à Idade Média (se é que um dia saímos dela)...

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