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maio 14, 2010

Mistura saudável

A junção das muitas vertentes alimentares, do vegetarianismo ao slow food, dá origem a nova uma cozinha mais saudável sem agredir o planeta.



Marcelo BarrosoPães, cookies de chocolate, cucas e outras delícias ecológicasPães, cookies de chocolate, cucas e outras delícias ecológicas
Nunca foi tão fácil ter uma alimentação saudável como nos dias de hoje. O vegetarianismo, que passou a se popularizar a partir dos anos 60, serve de base hoje para diversas maneiras de reeducar o paladar. O que antes fazia parte de um estilo de vida tido como alternativo, exótico, distante do cotidiano, agora está difundido de várias formas. Do buffet de saladas do restaurante popular à loja de produtos orgânicos, as opções estão disponíveis para todos poderem degustar. Aos que desejam associar alimentação com saúde, o cardápio pode ser mais saboroso e variado do que se pensa. 

A adoção do vegetarianismo (total ou em partes) exige um misto de informação e conscientização. Foi com esse objetivo que o projeto ecológico do sítio Ecovila Pau-Brasil, no Vale do Pium, resolveu chegar mais perto da sociedade. O local existe há 14 anos, sob os cuidados do casal Pedro Quillis e Larissa Batista. A área envolve todo um trabalho ecologicamente sustentável, que inclui agricultura natural, permacultura, agroecologia e biodinâmica, cujo objetivo é conservar a saúde do solo, dispensando totalmente os agrotóxicos, e gerando produtos orgânicos.  A Ecovila passou a trabalhar, há oito meses, com um restaurante próprio, o Magias da Terra. Ele é aberto ao público aos sábados e domingos, e sob reserva  de terça a sexta-feira. O cardápio fica a cargo de Larissa, que também ministra cursos baseado no conceito de “cozinha planetária”. “É a alimentação natural que o planeta precisa. Não agride o meio ambiente e favorece a saúde. É uma mistura de várias culturas, utilizando o que há de mais saudável nelas, e relendo hábitos para uma tradução naturalista”, explica. O conceito, na prática, Larissa demonstra em seus cursos – realizados desde agosto do ano passado. A ideia é mostrar que vários ingredientes da cozinha diária, principalmente os vegetais, podem ser trabalhados de uma forma original e mais saudável. “A macaxeira rende uma ótima sopa; cuscuz com legumes é uma delícia; ensinamos a fazer o pão sem conservante; as sobremesas só com o açúcar da fruta; a higienização correta dos alimentos; a versatilidade do jerimum; a utilização do sal marinho, não refinado; o uso de temperos como a cúrcuma, o açafrão da terra, parente do gengibre, e mais uma série de dicas saudáveis”, relata.  Tudo o que é comestível na Ecovila aproveita ao máximo seus nutrientes. É algo exemplificado no conceito de alimento “vivo”,  como as sobremesas que não vão ao forno ou fogão, não perdendo suas propriedades.  Grãos, cereais e vegetais são os componentes principais das receitas. O menu da casa inclui pratos como yakisoba de legumes, polenta com shitake, almôndegas de legumes ao molho, feijoada vegetariana, enrolada de berinjela gratinada com tofu, pão de abóbora com canela, surpresa de manga. 

A vila ecológica também produz doces e salgados com marca própria. Cookie de chocolate amargo com açúcar natural; cuca de banana com creme de mangaba; pastel de forno com recheio de queijo coalho, cenoura e ervas finas; pão de damasco, ameixa, uva passa e castanha-do-pará; geleias de banana da terra, licor de tamarindo, entre outras. 


Comensais adeptos do equilíbrio alimentar
A promotora do meio ambiente Rossana Sudário, participante do curso gastronômico da Ecovila, conta que foi uma “vegetariana xiita” por oito anos. Até que, durante uma viagem à Espanha, uma paella a “libertou” do radicalismo. Hoje em dia ela se diz majoritariamente vegetariana, mas sem abrir mão de outros prazeres da mesa. Sua dieta inclui frutas, linhaça, gergelim, cereais e integrais, e algo animal de vez em quando. “Acho a rigidez alimentar prejudicial. Aprecio os fundamentos do vegetarianismo, mas como um pouco de tudo de parcimônia. É uma questão de equilíbrio”,  diz. Rossana está apreciando o conceito “planetário” de culinária. “A ideia é que um dia sem comer carne já ajuda o meio ambiente. É uma visão ainda restrita, mas que pode ser levada a sério”, afirma.  O produtor cultural e dramaturgo Véscio Lisboa foi o pioneiro da alimentação natural em Natal. O restaurante Amai funcionou durante 15 anos (de 1977 a 1992), entre Petrópolis e a Cidade Alta, reeducando muitos paladares da época.  Ele próprio conta que suas posturas naturalistas foram se tornando mais flexíveis com o tempo. “Comecei macrobiótico, que é um estilo mais rígido, e depois parti para uma alimentação natural mais aberta”, diz. Ele manteve o arroz integral e os cereais, e abriu mais espaço para as verduras, saladas, frutas, e mais líquidos. A dieta inclui também frutos do mar e aves, açúcar mascavo, mel, e alguns alimentos ovolactovegetarianos (ovos, leite e laticínios). 

“O bom de hoje é que a alimentação natural foi incorporada ao cotidiano como uma opção normal. É fácil para mim ir a qualquer restaurante self-service e comer do jeito que eu gosto. Posso fazer um prato só com arroz integral, folhas, lentilhas e ervilhas, pedir um suco sem açúcar, e ainda pedir uma carne branca grelhada”, conta Véscio, que circula normalmente pelos restaurantes convencionais. E paradoxalmente, o alimento hoje é mais contaminado que antigamente. “Daí a importância de recorrer aos orgânicos”, ressalta. Para ele, não é preciso radicalismo para ser natural. “Consuma menos açúcar, sucos em vez de refrigerante, procurar boas verduras, usar mais frutas e mel. Isso já é um ótimo começo”, diz. 


Sociedade Naturopata  
Orientar também é o objetivo da Sociedade Naturopática Potiguar, que está há 20 anos em Natal. Segundo o presidente Marcos Torres, a ideia é contribuir para a melhoria da qualidade de vida, incentivando o uso de produtos naturais e dispensando a química. A partir daí, a sociedade divulga e faz diversas atividades naturalistas – algumas com propriedades terapêuticas. “Em geral, banimos a proteína animal. Mas cada caso é um caso”,  explica.  A Sociedade Naturopática ouve as necessidades das pessoas interessadas, sugere e recomenda alguns procedimentos. Quem fizer questão de proteína animal, pode comer um peixe ao forno, sem a gordura. Incentiva-se o consumo de  vegetais crus, sem cozimento, a chamada “comida viva”. “A comida crua está integral, viva. Quando vai a forno, perde suas vitaminas”, diz Marcos. Orienta-se também sobre a combinação de certos alimentos que ocasionam má digestão, como o amido com o cítrico, por exemplo. As reuniões na sociedade são abertas e contam com várias informações didáticas. 


Ecovila Pau Brasil. Tel.: 3237-0093. 
Sociedade Naturopática Potiguar. 
Tel.: 3089-0247

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