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abril 15, 2010

Do preconceito à carência nutricional...

 Adoção radical do vegetarianismo pode se tornar um problema se não for previamente estudada


Ricardo Campos, 26, é paulista, vendedor e desde os 11 anos adota uma dieta vegetariana. Ao optar pelo cardápio que exclui qualquer tipo de carne, o jovem passou a enfrentar uma grande proplema: a discriminação, até mesmo de seus pais. "No início minha mãe era contra, pois antes de consumir o menu à base de vegetais, eu estava com anemia e para ela a eliminação da carne significaria a intensificação da doença", lembra Ricardo, que é um dos milhares de vegetarianos que sofrem ou já sofreram com a mudança na alimentação. "Ao restringir o cardápio, a pessoa enfrentará a barreira nutricional e a social. Porém após superá-las, o consumidor de folhas, frutas, leguminosas e oleaginosas poderá viver até sete anos a mais do que um indivíduo que inclui gordura animal em sua dieta", alerta o nutricionista, especializado em vegetarianismo, George Guimarães, 36.


Único vegetariano da família, Ricardo Campos se convenceu que não queria mais consumir "animais mortos", como ele mesmo define, de um modo geral, as carnes. O então adolescente, por influência de uma amiga, passou a ver vídeos que condenavam a gordura vegetal e defendiam a não eliminação de bovinos, suínos, aves ou peixes. "Do dia pra noite, decidi mudar minha dieta. Passei a ter pena e ao mesmo tempo nojo daquele tipo de alimentação que eu seguia", conta Ricardo. Mas, o jovem esbarrou com uma dúvida: o que comer, quando comer e quais os nutrientes necessários para compensar a falta da carne. "Uma pessoa não pode mudar radicalmente sua dieta sem antes pesquisar receitas, consultar nutricionistas, conversar com vegetarianos, ler artigos na internet, buscar por restaurantes especializados e elaborar uma dieta balanceada", explica George Guimarães.


Segundo ainda o nutricionista, não há como uma pessoa alterar sua rotina alimentar em menos de um trimestre. "Se tudo não for muito bem pensado, o indivíduo poderá adquirir doenças", alerta.

Apesar de ser muito jovem, Ricardo seguiu os passos certos. Ele buscou por pessoas que seguiam a dieta vegetariana, leu diversos livros que tratavam sobre o assunto e conseguiu criar a sua própria refeição. "Eu fazia tudo certinho. Comia proteína de soja, massas e verduras. Apesar da minha mãe ser contra, eu consegui convencê-la que aquele era o caminho certo. Tanto que consegui curar a minha anemia", relata Campos.


Para não passar por carência de vitaminas, encontradas nas carnes, o vegetariano deve investir em leguminosos, como feijão e soja, e nos oleaginosos, como castanhas e amêndoas. "Este tipo de alimento possui as proteínas, ferro e cálcio encontrados nos alimentos de origem animal", aponta o nutricionista (foto ao lado).

Considerando uma pessoa de altura e peso medianos e que realiza atividades leves ao longo do dia, uma dieta vegetariana balanceada precisa conter diariamente proteína de soja, queijo tofu, porções de leguminosos, oleaginosos, cerais integrais, vegetais - principalmente os de cor escura, pois são ricos em cálcio - e frutas. "Claro que a quantidade depende do biotipo de cada indivíduo", completa George Guimarães.

Pode até parecer mais caro consumir este tipo de refeições, mas, segundo o nutricionista, tudo não passa de impressão. "As carnes também são caras, e se o vegetariano consumir produtos pouco processados, a economia será garantida". Vale ressaltar, que nas prateleiras dos mercados há alimentos orgânicos e destinados a este tipo de dieta, porém o preço é saldado, já que estes produtos não são tão procurados.

Ao se tornar vegetariano, o organismo também passará por mudanças fisiológicas. "É normal um aumento na quantidade de gases, uma vez que toda a flora intestinal será alterada", destaca o nutricionista.

E depois de criar o cardápio em casa, que Ricardo mesmo passou a elaborar, o vendedor partiu em busca de locais onde vendesse comida vegetariana. "Quando eu não encontro, tento adequar as refeições que os estabelecimentos oferecem", conta. No Brasil, há aproximadamente 180 restaurantes especializados nesta dieta, "porém não há nenhum investimento em promover festivais ou encontros entre chefs deste segmento", sublinha Guimarães.


Em São Paulo, a rede Apfel vende há 26 anos comida vegetariana. Os destaques da casa são os hambúrgueres de cajú, a lasanha de abóbora e o nhoque de beterraba. "O sucesso das nossas casas é tão grande que resolvemos abrir à noite, na unidade Jardins", avisa Letícia Bressan, gerente da unidade. Com um cardápio assinado pela chilena Milene Signe, o local sempre apreseta pratos novos e atualmente desenvolve festivais com comida típica. "Em abril, estamos oferecendo um bufê rico em comida mineira, claro que inteiramente vegetariana", conta Letícia. A casa também oferece cursos voltados para os vegetarianos.

Depois de enfrentar a barreira nutricional, criando um cardápio balanceado e encontando restaurantes apropriados, a pessoa que quer eliminar as carnes da dieta, encontrarão um outro problema: a aceitação na sociedade. "Meus amigos passaram a reclamar das minhas refeições e muitos deixaram de me convidar para sair. Já minha família, torcia o nariz quando abria as minhas panelas", relata Ricardo Campos. Para o nutricionista Guimarães, muitos acabam desistindo do vegetarianismo, pois sofrem preconceito. "O vegetariano é uma pessoa comum e caso sofra discriminação, deve buscar por grupos vegetarianos, ampliar ou até mudar o seu ciclo de amizades. Os sites de relacionamento são boas saídas para conversar sobre a dieta", esclarece Guimarães.

Para o nutricionista, que também segue uma dieta vegetariana, o não consumo de carne não altera a cadeia alimentar. "É uma mentira dizer que o mundo entraria em colapso se a humanidade parar de consumir gordura animal. O processo é longo para ocorrer um desequilíbrio, e hoje, muitos dos animais são criados apenas para o abate", esclarece Guimarães.
Segundo ainda o profissional, a dieta vegetariana pode aumentar em até sete anos o tempo de vida do indivíduo. "Só tive benefícios em mudar meu cardápio", conclui Ricardo Campos.

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