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abril 13, 2010

Os movimentos de defesa dos animais


Bem-estar animal: uma alternativa aos direitos dos animais 


De acordo com o professor Gary Francione – o mentor do veganismo abolicionista -  os movimentos de defesa dos animais se dividem em 3 grupos principais:
1. Bem-estaristas: descendentes dos primeiros grupos de proteção aos animais, os bem-estaristas defenderiam a redução do sofrimento e um tratamento humanitário dos animais, sem contudo defender o fim de sua utilização para interesses humanos.
2. Abolicionistas: defendem que toda forma de exploração animal não deve somente ser reduzida, mas completamente abolida. Os abolicionistas defendem ainda o fim da propriedade de animais e a utilização de animais como meio para fins.
3. Neo bem-estaristas: defendem o fim da exploração animal, mas adotam táticas bem-estaristas para a realização desta meta. São como que abolicionistas de longo prazo que defendem a redução no sofrimento animal, mas não atuam pelo fim imediato da propriedade de animais.


Esta divisão, na minha opinião um tanto quanto arbitrária (pois desconsidera várias posições de defesa dos animais e.g. utilitarismo, ética da virtude), tem sido moeda corrente nos discursos do veganismo atual. O bem-estarismo (seja em sua forma original ou como neo bem-estarismo) tem sido apontado por abolicionistas como vilão dos movimentos de defesa dos animais e, curiosamente, movimentos abolicionistas têm usado o termo para definir todos os grupos ou políticas não abolicionistas.
Desse modo, Gary Francione, em um post de seu blog, traduzido e publicado no blog Pensata Animal menciona 4 problemas do bem-estarismo. Problemas que, se analisados, nos mostram que na verdade posições bem-estaristas podem fazer até mais sentido que o abolicionismo.
Primeiro, Francione menciona que “as medidas do bem-estar animal oferecem pouca – se é que oferecem alguma – proteção significativa aos interesses dos animais”. Como exemplo, ele discute a campanha realizada pelo PETA para que a rede MacDonald adotasse uma novos padrões de manejo e abate que visam a reduzir o sofrimento dos animais. A crítica é que “um matadouro que segue as diretrizes de Grandin e um que não as segue são, ambos, lugares horríveis. Afirmar o contrário beira o delírio.” Concordo, mas afirmar que um matadouro que causa menos dor não é melhor que um que causa mais não é menos delirante. Nesse sentido, mantidas todas as outras condições constantes, será melhor adotar as novas práticas e fazer campanha por elas pode resultar em menos sofrimento do que defender a abolição completa do uso de animais. (Até mesmo porque, acredito que a campanha bem-estarista consegue algum resultado, ao passo que nunca ouvi falar de uma rede de hamburgueres ter adotado uma única política abolicionista).
Segundo, “as medidas do bem-estar animal fazem o público se sentir melhor quanto à exploração dos não-humanos, e isso incentiva a continuação do uso dos animais.” Sim, mas em um patamar de sofrimento menor. Aqui, a divergência com o abolicionismo se torna mais profunda já que para criticar essa posição precisaria dizer porque não creio haver problema em usar animais (assim como não há problemas em usar seres humanos) contanto que seus interesses sejam respeitados e não causemos sofrimento desnecessário. Infelizmente, por questões de espaço, essa crítica fica pra depois.
Diz Francione:
A ironia é que reformas bem-estaristas podem, na realidade, aumentar o sofrimento animal. Suponha que estejamos explorando 5 animais e impondo, a cada um deles, 10 unidades de sofrimento. É um total de 50 unidades de sofrimento. Uma medida do bem-estar resulta numa redução de 1 unidade de sofrimento para cada animal, mas o consumo sobe para 6 animais. É um total de 54 unidades de sofrimento – um aumento do saldo de sofrimento.
Mas obviamente essa é uma crítica falaciosa pois o exemplo é hipotético. Exemplos hipotéticos não provam nada, cria-se exemplos como bem se entender. Suponha que exploramos 10 animais e impomos 10 unidades de sofrimento a cada um. Se uma medida de bem-estar resulta numa redução de 2 unidades de sofrimente, mas o consumo aumente para 11 animais, teremos um total de 88 unidades de sofrimento o que é uma situação melhor que a inicial. Se por outro lado, uma campanha abolicionista reduz a o consumo para 9 animais com as mesmas 10 unidades de sofrimento, o resultado foi 90 unidades totais, mais que a reforma bem-estarista.
Terceiro, o bem-estarismo não faz nada para erradicar a condição de propriedade dos animais. Mas a grande pergunta é: por que deveria? Que a condição de propriedade está associada a exploração dos animais como mercadoria não há dúvidas. Mas isso não quer dizer que a causa do sofrimento causado a animais seja sua condição de propriedade. É perfeitamente concebível que animais fossem tratados dignamente e sem dor (incluindo a proibição de abate para alimentação, vestuário etc) sem que eles deixassem de ser propriedade. Ora, se isso é assim, ser ou não ser propriedade não é bem o que está em questão.
Por fim, “todo segundo e todo centavo gastos em tornar a exploração mais “humanitária” são menos dinheiro e menos tempo gastos em educação vegana para a abolição.” Sim, mas novamente, por que uma educação vegana para abolição ao invés de uma educação vegana utilitarista, ou de ética da virtude??  Ou mesmo uma educação não vegana mas que seja mais efetiva na redução do sofrimento animal?
Concluindo, quis mostrar nesse post que muitas críticas ao bem-estarismo, mesmo quando feitas por profissionais de reconhecido saber como o professor Francione, são fracas e muitas vezes funcionam como petição de princípio das teorias abolicionistas. O bem-estarismo, mesmo que ele possa não ser a melhor forma de defesa dos animais, tem posições interessantes, válidas e que não devem ser sumariamente desconsideradas como frequentemente tem sido feito por movimentos de defesa dos animais

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