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fevereiro 03, 2010

Alimentar o Mundo no Século XXI: solução passa pelo veganismo


A Organização para Agricultura e Alimentação das Nações Unidas (FAO) estima que cerca de 840 milhões de pessoas – cerca de 4% da população mundial – se encontrem em estado de subnutrição e que uma média diária de cerca de 25000 pessoas morram de causas relacionadas com a nutrição. Neste contexto, dadas as previsões de um crescimento populacional mundial de 6 bilhões para 9 bilhões até ao ano 2050, urge questionar o modo como nós, humanos, poderemos nos alimentar no século XXI.

Uma das principais limitações na produção de alimento relaciona-se com a  disponibilidade de terra agrícola viável. Saliente-se que presentemente o problema não consiste na escassez de alimentos, uma vez que dispomos de produção alimentar suficiente para satisfazer as necessidades nutricionais de uma população global de 8 a 10 bilhões de pessoas, mas na sua difícil acessibilidade. As razões que explicam tal fato prendem-se, não raras vezes, com situações de pobreza ou de guerra. Não obstante, o estilo de vida ocidental e a sua dieta alimentar em particular, podem, em grande medida, contribuir para privar as populações mais carentes de alimentos a nível mundial.
A produção mundial de gado excede anualmente os 21 bilhões de animais, sendo essa população animal três vezes e meia superior a população humana. A criação de gado implica a utilização de mais de 2/3 de terra agrícola e de 1/3 de área total de terra, o que se apresenta aparentemente justificável, pelo fato de consumindo os alimentos que os humanos não conseguem digerir e processando-os em carne, leite ou ovos, os animais de criação  fornecerem uma fonte alimentação “necessária”.
Contudo, na realidade, o gado é constantemente alimentado com grãos e cereais que podem ser diretamente consumidos por humanos ou que são cultivados em terras passíveis de serem usadas para o cultivo de outros alimentos.
Se atentarmos aos dados apresentados pela Vegan Society, constatamos que, em 1900, apenas 10% dos cereais cultivados a nível mundial eram destinados ao consumo animal; em 1950, eram já cerca de 20%; e em finais da década de 90, os números rondavam os 45%. Atualmente, estima-se que cerca de 60% do cereal norte-americano seja destinado a alimentação de gado.
Acrescenta-se o fato da produção de carne e outros produtos diários constituir um uso notoriamente insuficiente de energia. Todos os animais utilizam a energia que obtém dos alimentos para se movimentarem, manterem a temperatura corporal e desempenharem outras funções diárias. Todavia, só uma percentagem da energia obtida pelos animais de criação através do consumo de alimentos vegetais é depois convertida em carne e produtos diários.
A este respeito, num recente estudo, o Professor Vaclav Smil da Universidade de Manitoba, no Canadá, calculou que os bovinos de criação convertem apenas 2,5% da energia que consumem em alimentos para consumo humano. Esta eficiência pode ser igualmente mensurável em termos da terra requerida por caloria de alimento obtido. Quando Gerbens-Leenes et al. examinaram o uso da terra para cultivo na Holanda, descobriram que, por oposição aos vegetais, a carne necessitava da maior quantidade de terra por kg.
Alimentos Terra por kg (m2)  Calorias por kg  Terra por pessoa/por ano (m2)
Carne de vaca 20.9  2800  8173
Carne de porco 8.9  3760  2592
Ovos 3.5  1600  2395
Leite 1.2  640  2053
Frutos 0.5  400  1369
Vegetais 0.3  250  1314
Batatas  0.2  800  274
Com base nestes dados, para responder às necessidades de uma dieta vegana variada seriam necessários cerca de 700 m2 de terra. Substituir 1/3 das calorias desta dieta por leite e ovos iria duplicar a quantidade de terra necessária. Em termos comparativos com uma dieta vegana variada, uma típica dieta onívora europeia requeriria 5 vezes mais terra.
A maior parte da terra desperdiçada no cultivo de alimento para a criação de gado situa-se nos países ditos ,em via de desenvolvimento, onde a comida é  mais escassa. A Europa, por exemplo, importa 70% da sua proteína para alimentação de gado. Esta situação contribui para o desenvolvimento da má nutrição a nível mundial ao impelir as populações empobrecidas a lucrarem com o cultivo de produtos destinados à alimentação animal, em vez de cultivarem produtos para a sua própria alimentação.
Acrescenta-se ainda o fato da monocultura intensiva conduzir a deterioração dos solos em termos de valor nutricional e, desta forma, permitir que populações economicamente vulneráveis se afastem dos ditos sistemas de agricultura sustentável.
A nível mundial, a criação de gado implica na utilização de cerca de 3,4 bilhões de hectares de terra para cultivo, dado que grande parte da criação de gado mundial é ainda efetuada em pastagens. Os defensores da agricultura animal advogam que a maioria da terra para pasto é inadequada para o cultivo de cereais destinados a alimentação do homem, acrescentando que, ao se converter erva e outras plantas indigestíveis para os humanos, em energia e proteína para o seu consumo, a criação de gado providencia uma mais-valia para os nossos recursos alimentares.
Na realidade, a terra atualmente utilizada para a criação de gado é, quase na sua totalidade, indicada para o cultivo de árvores. Utilizá-la antes para este cultivo permitira não só um uso eficiente da terra e a obtenção produtos vegetais, como traria igualmente muitos benefícios ambientais.
Em suma, enquanto 840 milhões de pessoas não possuem alimentos suficientes, continua-se a desperdiçar 2/3 de terra agrícola para obter apenas uma pequena fração do seu potencial valor calórico. Parece assim claro que não possuímos terra suficiente para alimentar toda a gente com base numa dieta carnívora.
Parafraseando D. T. Avery, diretor do Centre for Global Food Issues, “o mundo terá de criar cinco bilhões de veganos nas próximas décadas, ou triplicar o output da sua quinta global sem utilizar mais terra.” Assim sendo, perante a evidência do pleno crescimento da população mundial e da redução de terra agrícola viável, urge encontrar formas sustentáveis para a utilização dos nossos recursos naturais.
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