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novembro 14, 2009

"A carne das fazendas americanas é imoral"

Em seu novo livro, o escritor vegetariano intima o leitor a assumir sua responsabilidade sobre a matança cruel de animais confinados.

«O menino Jonathan Safran Foer tinha 9 anos quando se deu conta de que o frango servido com cenouras em seu prato, receita favorita preparada por sua avó judia que sobrevivera ao nazismo, era feito de uma ave que dias antes estava viva. A revelação, feita por uma babá vegetariana, transformou sua maneira de encarar a comida. De lá para cá, Foer virou vegetariano e voltou a comer carne várias vezes, por vários motivos – do princípio ético ao desejo por belas garotas engajadas na proteção dos animais. A gangorra alimentar parou quando, perto dos 30 anos e já autor de um best-seller premiado, ele se tornou pai. Ele não queria que as memórias alimentares que seus filhos carregariam por toda a vida tivessem o mesmo sabor animal das suas. Foer resolveu então abandonar a carne em definitivo e começou a escrever sobre o assunto. Seu exercício filosófico resultou no livro Eating animals, recém-lançado nos Estados Unidos e ainda sem tradução para o português.
Para os americanos, como para os brasileiros, comer carne é uma paixão. Só em 2009, de acordo com Foer, eles digeriram 12 milhões de toneladas de carne de vaca, além de porco e aves em quantidades igualmente gigantescas. Mas a criação do gado americano é diferente da nossa. “As fazendas de gado brasileiras não são como as americanas”, disse Foer a ÉPOCA. “Os animais aí ainda pastam, ainda são criados de maneiras que a maioria das pessoas aceitaria.” Lá, não. A criação intensiva de animais e seu abate industrial são descritos no livro de modo nauseante. Entre as descrições mais impressionantes de suas visitas às fazendas está o confinamento de perus numa granja forrada com camadas sobre camadas de fezes acumuladas, em que os gases de amônia causam feridas na pele e nos pulmões das aves. Ou o “caldo fecal” em que frangos são mergulhados antes do abate para engolir água (suja) e ficar mais pesados – prática que seria uma das causas dos crescentes casos de contaminação pela bactéria Escherichia coli. São condições de vida que, diz Foer, seriam consideradas ilegais se aplicadas a cães ou gatos. Segundo seu relato, os animais das fazendas americanas consomem quase dez vezes mais antibióticos que os seres humanos. Em alguns momentos, o leitor pode pensar em parar de comer carne não por amor aos animais, mas por nojo e medo de adoecer.

"As fazendas de gado tratam os animais de maneiras 
que seriam ilegais se fossem aplicadas a cães ou gatos"

Foer elenca ainda as consequências catastróficas atribuídas por ambientalistas e autoridades de saúde a esse sistema de produção de alimento. Apresenta dados abundantes sobre como a indústria de animais estaria secando a vida marinha. Segundo ele, para cada meio quilo de camarão pescado na Indonésia, 12 quilos de outros animais marinhos são mortos. E Foer acusa as fazendas industriais não apenas de agravar os problemas ambientais e o aquecimento global. Seu argumento central é de ordem moral: ele afirma que essas fazendas praticam a crueldade contra os animais e favorecem a contaminação alimentar. Ele incita o leitor a abandonar a inocência – que um dia ele mesmo teve – e tomar posição diante dos fatos.

Ele diz não esperar que os leitores ou mesmo seus filhos (que já não comem carne) sejam vegetarianos convictos, mas espera que conheçam a realidade e ajam com coerência. “Não sei se acho que comer carne é errado”, diz. Ele vê incoerência nos hábitos daqueles que não veem problema em chamar os amigos para um churrasco enquanto buscam o cachorro de estimação no pet shop. E afirma que quem come carne não poderia ser ambientalista. Foer reconhece, é verdade, o cuidado de uns poucos criadores humanitários, em pequenas propriedades, mas diz preferir abrir mão de aceitar o assassinato dos bichos que sentem dor. “Mudar o que a gente come e deixar sabores se esvair da memória é uma espécie de perda cultural, um esquecimento. Mas talvez um tipo de esquecimento que valha a pena aceitar – e até cultivar”, afirma.»

ENTREVISTA - JONATHAN SAFRAN FOER

1 comentário:

Mª de Lourdes disse...

A dor da carne
Muitas vezes objeto de suspeita e de ironia, os vegetarianos encontram agora em Jonathan Safran Foer (foto) um notável e apaixonado porta-voz. Com o seu último livro, “Se niente importa. Perché mangiamo gli animali?” [Se nada importa. Por que comemos os animais?], o escritor norte-americano, nas pegadas de Isaac Bashevis Singer e de J.M. Coetzee, denuncia os horrores das multinacionais da criação e do abate de animais.
http://www.vegetarianismo.com.br/sitio/index.php?option=com_content&task=view&id=2519&Itemid=103