
Há seis milhões de anos, nossos ancestrais curtiam comer umas raízes, umas frutinhas, umas folhas. Esses hominídeos conseguiam tirar todos os nutrientes de que precisavam da natureza sem precisar matar. O problema é que havia uns bichos bem maiores do que nós naquela época, e na dieta deles, nós éramos o prato principal. Depois de um tempo, quando já éramos um grupinho maior, não dava para ficar andando pra lá e pra cá toda hora atrás de frutas. Afinal, o mundo era bastante perigoso.

O ser humano tem uma capacidade de adaptação tremenda. Não depende exclusivamente do acaso das mutações e da seleção natural de genes. Se precisamos de asas, nós mesmos as construímos. Se precisa de velocidade, não espera que seus descendentes desenvolvam pernas mais velozes; em vez disso, criamos veículos. Naquele tempo remoto, usamos nosso cérebro para aprender a caçar. Na carne dos animais, já encontrávamos uma série de nutrientes e proteínas concentradas. Nosso organismo, entretanto, não está preparado naturalmente para a digestão desse tipo de alimento (basta olhar nosso estômago, nossa arcada dentária, nosso intestino).

Mas o sol voltou a brilhar. A era do gelo chegou ao fim. A terra voltou a dar seus frutos em abundância. Sim! Comida de verdade! Não precisávamos mais da degeneração de comer carne de outras espécies. Não precisaríamos nos culpar por termos comido cadáveres nos tempos da neve, afinal, era questão de sobrevivência. Mas agora não! Boa parte de nossos predadores havia deixado de existir e nós descobrimos como cultivar nossas próprias verduras e frutas.
Era sem dúvida um mundo mais saudável, mais bonito, mais gostoso, mais fácil de se viver. Estávamos em casa. Sério. Há duas experiências a se fazer para testar a teoria de que a gente era mais feliz nos campos férteis:
Primeira delas: tranque uma criança numa sala com uma maçã e um coelhinho. Observe se a criança vai comer a maçã e brincar com o coelho ou se ela vai caçar, matar e comer o coelho e depois brincar com a maçã.
Segunda: vá a um matadouro de bois. Sinta o cheiro, escute o barulho, olhe as cores. Depois vá a um pomar ou a uma horta e faça o mesmo processo sensorial: sentir o perfume, ouvir o som ambiente, contemplar a beleza. Em qual dos dois ambientes seu coração e seu corpo se sentiram melhor?


Semana passada começamos a refletir sobre a história da relação da espécie humana com os ecossistemas dos quais fazemos e fizemos parte, com foco sobre a maneira como extraímos nosso alimento da natureza. Mesmo com a estrutura física de herbívoro (formato da arcada dentária, intestino longo, enzimas para digerir alimentos de origem vegetal), nossos ancestrais se submeteram a comer carne por uma única razão: sobrevivência.
Os primeiros hominídeos a experimentarem carne foram os Homo ergaster, desaparecidos há 250 mil anos. Eles comiam frutas, ovos e folhas. Mas em períodos de fome, começaram a comer carniça, restos das presas de grandes felinos.
Quando a comida escasseava ou ficava difícil vagar por aí por causa dos nossos predadores, a maneira de conseguir certos nutrientes era comer carniça, mesmo que isso fizesse mal em outros aspectos. Em condições extremas, as espécies humanas se mostraram capazes de tudo para tentar sobreviver. Em situações mais extremas ainda, até canibalismo cometeram.

Depois desenvolvemos técnicas de caça e domesticamos o fogo. Uma vez que a carne não é um alimento naturalmente feito para o homem, assá-la facilita um pouco a digestão. Matar animais foi fundamental para que os Homo sapiens (a nossa raça de homem) sobrevivessem a um período glacial, já que os animais abatidos forneciam pele e alimento.

Mas alguns povos não tinham terras férteis. Tinham que andar. A melhor maneira de carregar alimento, pelo deserto por exemplo, é que esse alimento vá andando junto com a caravana. O pastoreio é uma boa solução.
Mas sabe que já descobriram como tornar a maior parte das terras estéreis em solo fértil? E tem lugar que não tem isso ainda por falta de vontade política, mas os egípcios antigos e civilizações pré-colombianas já descobriram há um tempão como irrigar a terra. Aos poucos, quase todos os povos da Terra se sedentarizaram.
Atrás de pimenta, descobriram terra
Mas vejam só os portugueses. Parece piada, mas eles continuaram a comer animais mortos mesmo tendo desenvolvido tanta tecnologia. Comer carne (principalmente quando ainda não havia geladeira e a coisa estragava e fedia mais rápido) é uma forçação de barra tão grande contra o organismo que os caras fizeram o maior fuá pra conseguir trazer especiarias (pimentas e outros temperos) das Índias para conseguir engolir aquilo. O bom disso é que (sem querer?) descobriram, em 1500, a terra que hoje chamamos de Brasil. Uma terra grande onde “se plantando tudo dá”, como escreveria ao rei o famoso Pero Vaz de Caminha (que morreu antes de voltar de sua viagem atrás de pimenta).
Aquela terra dava para plantar comida pra caramba para acabar com a fome do mundo, que poderia viver tranquilo, em harmonia, de barriga cheia, buscando progresso de maneira racional e justa. Mas nããão! Escravizaram pessoas, destruíram a vegetação natural e esgotaram o solo.

Além de a produção de carne gastar 14,7 vezes mais energia do que a produção de vegetais, ainda tem o problema da água. Para produzir um único quilo de carne são gastos 15.500 litros de água (o que a vaca bebe mais o quanto de água é gasto para produzir seu alimento: pasto e cereais). Enquanto que para produzir um quilo de soja gasta-se 1,8 mil litros; um quilo de arroz, 2 mil litros. Sem falar na poluição que a quantidade de fezes leva para os lençóis freáticos. Aí a água já sai da mina com coliformes fecais.

Bom, melhor nem falar dos hormônios e de outras substâncias químicas que injetam no gado e a gente absorve ao comer...

Sem comentários:
Enviar um comentário