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abril 05, 2010

Tipos que conheci por aí



Crônica de Dennis Zagha Bluwol


Pedro
- Mas eu não como muita carne. E mais peixe.
Conheci Pedro em uma festa e esta foi a última frase que me dirigiu.
Por que obtive esta resposta, eu não sei. Estava apenas respondendo sua pergunta sobre o porquê de não achar eticamente correto se alimentar de animais. Ou melhor, tratar os animais como propriedade, cercear suas liberdades, impor-lhes sofrimento.
De qualquer forma, sei lá o porquê, esta foi a última frase que me dirigiu. Talvez tenha estranhado meu longo silêncio.
Às vezes tenho a impressão que algumas pessoas se arrependem de tentar puxar uma conversa séria em uma festa. Quantos “nossa, calma, era só uma pergunta, não precisa filosofar” eu já escutei...
Demorei pra responder ao Pedro pois tentei entender o que significa “não muita”. Dizem que em uma cadeia americana um colega de corredor de Charles Manson jurava ser mais nobre por ter matado três pessoas a menos. O carcereiro, ouvindo, os achava demoníacos. Quando queria alguém morto, pagava por serviços devidamente credenciados. Não seria certo matar com as próprias mãos. Às vezes, sim, precisava executar poucas pessoas, mas sempre por mandato das instâncias governamentais superiores. Legalmente correto, como previsto em lei, o que não caracteriza um crime, claro. Muito menos um pecado.
Talvez, a confusão entre respeito e quantidade de sofrimento imposto seja uma questão importante para compreender nossa cultura.
Enfim, voltando ao Pedro, senti que ele esperava um sorriso de aprovação. Talvez fosse um grande zoólogo, possuidor da descoberta de que peixe é realmente um fruto que nasce em grandes florestas submarinas. Preciso reler Julio Verne, ver se acho esta informação relegada por nossa ciência ocidental. Mesmo assim, parte importante de meu silêncio foi tentando sacar a diferença entre comer mais peixe ou mais boi. Talvez a carne branca invoque a paz, sei lá. Talvez tenha a ver com a Era de Peixes. Ou melhor, com a Era de Aquário, mais adequada à atual condição de vida e liberdade dos animais da Terra. Talvez matar o que pareça ser menos prejudicial ao organismo humano seja mais aceitável eticamente. Vai entender a lógica de pensamento de cada um! Eu diria que não há lógica, apenas reprodução de hábitos e vícios de gerações anteriores, mas se dissesse isto ao meu novo conhecido, seria tido como arrogante.
Respiro...
E tento recomeçar com calma o diálogo sem chamar meu colega de ilógico. Vá que ele achasse que o estava chamando de irracional. Fiquei com medo da reação, haja visto que possuir outra racionalidade que não a humana, ou mesmo não operar com mecanismos racionais são erros graves, merecedores de condenação à prisão, tortura e morte. Assim está nas leis.
Tentei dar alguma resposta, mas percebi que Pedro já estava longe, em direção ao bar. Fiquei aliviado, é verdade, embora angustiado, sempre.
Anna e João
Anna e João eram casados e honestos.
Anna havia sobrevivido por vinte dias a uma queda de avião na cordilheira dos Andes graças aos membros de seus falecidos companheiros.
João entrava na mata nu, pulava em cima de um búfalo, rasgava-o com suas próprias unhas, comia sua carne, chupava o sangue quente, sugava o interior de suas entranhas, assim como vermes e outros parasitas (separava os mais graúdos para comer com cerveja de noite). Roia a cartilagem dos ossos e usava os olhos como chiclete.
Julia
Julia havia largado o ambiente violento da cidade. Mudou-se para o campo, onde, aos finais de semana, saia para pescar com os amigos.
Martha
Martha amava os animais. Toda tarde dava um belo bife aos seus gatos.

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