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abril 05, 2010

Após críticas de 'exagero', FAO vai rever impacto da indústria da carne no clima


Indústria da carne
Para cientista, FAO exagerou impacto da indústria da carne no clima
Especialistas da ONU vão voltar a analisar o papel da indústria da carne nas mudanças climáticas, depois que um relatório sobre o tema foi acusado de exagerar a relação entre os dois fenômenos.
Um relatório de 2006 concluiu que a produção de carne é responsável por 18% das emissões de gases nocivos ao ambiente. Pelo relatório, a indústria da carne polui mais do que o setor de transporte.
O relatório vem sendo citado por ativistas e celebridades que fazem campanha por dietas mais baseadas em vegetais, como o ex-beatle Paul McCartney. No ano passado, o músico lançou uma campanha com o lema "Menos carne = menos calor".
Mas uma nova análise, apresentada em um encontro científico nos Estados Unidos, afirma que a comparação com o transporte é equivocada.
Mais fome
Reduzir a produção e o consumo traria benefícios menores ao meio ambiente do que o que se acreditava, afirma o cientista Frank Mitloehner, da Universidade da Califórnia em Davis (UCD).
Essa 'análise' tendenciosa é uma clássica comparação de 'maçãs com laranjas', que realmente confundiu o assunto.
Frank Mitloehner, cientista sobre o texto da FAO de 2006
"Pecuária mais inteligente, não menos pecuária, é igual a menos calor", disse ele na conferência da Sociedade Americana de Química, em San Francisco.
"Produzir menos carne e leite só vai significar mais fome em países pobres."
Algumas figuras centrais no debate sobre mudanças climáticas – como o diretor do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), Rajendra Pachauri – têm citado o índice de 18% produzido pelo relatório como um motivo para as pessoas reduzirem seu consumo de carne.
O relatório de 2006 – intitulado A Grande Sombra do Gado, publicado pela FAO, a agência da ONU para alimentação e agricultura – chegou ao índice de 18% somando todas as emissões de gases nocivos ao ambiente associados à produção de carne, desde a fazenda até a mesa.
Isso inclui a produção de fertilizantes, técnicas para abrir campos, emissões de metano da digestão dos animais e uso de veículos em fazendas.
Transporte
No entanto, o professor Mitloehner afirma que os autores do relatório não calcularam as emissões do setor de transporte da mesma forma, se limitando a usar dados do IPCC que só incluem queima de combustíveis fósseis.
"Essa 'análise' tendenciosa é uma clássica comparação de 'maçãs com laranjas', que realmente confundiu o assunto", disse ele.
Um dos autores do relatório da FAO, Pierre Gerber, disse à BBC que aceita a crítica feita por Mitloehner.
"Eu tenho que dizer que, sinceramente, ele tem razão em um ponto – nós analisamos tudo na produção de carne, e não fizemos a mesma coisa com transporte", disse ele.
"Mas o resto do relatório eu creio que não foi realmente contestado."
Eu tenho que dizer que, sinceramente, ele tem razão em um ponto – nós analisamos tudo na produção de carne, e não fizemos a mesma coisa com transporte.
Pierre Gerber, autor do relatório da FAO de 2006
A FAO está preparando agora uma análise mais abrangente de emissões do setor de alimentos, disse Gerber.
O relatório será concluído até o final do ano e deve permitir comparações mais precisa entre diferentes tipos de dietas – tanto com carne como vegetarianas.
Organizações usam métodos diferentes para alocar emissões entre setores da economia.
Em uma tentativa de capturar tudo que é associado com produção de carne, a equipe da FAO inclui contribuições, por exemplo, de transporte e desmatamento.
A metodologia usada pelo IPCC separa emissões de desmatamento em uma categoria diferente, mesmo que algumas árvores tenham sido derrubadas para contribuir para a agricultura. O mesmo acontece com o transporte.
Por isso, para alguns analistas, o índice de 18% de emissões produzidas pela indústria da carne no relatório da FAO é tão elevado.
A maioria das emissões relacionadas à indústria da carne vem da abertura de campos – feita por desmatamento – e das emissões associadas à digestão de animais.
Outros cientistas argumentam que a carne é uma fonte necessária de proteína em algumas sociedades com pouca diversidade de alimentos, e que em regiões do leste africano e do Ártico não há possibilidade de plantas sobreviverem. Nesses lugares, a dieta baseada em carne é a única opção.
Mitloehner afirma que em sociedades desenvolvidas, como nos Estados Unidos – onde as emissões do setor de transporte chegam a 26% do total, comparado com 3% da pecuária – a carne é o alvo errado das campanhas de redução de ambições.





Parar de comer carne não seria solução

 

Getty Images
Parar de comer carne não seria solução
Pesquisador americano afirma que é errado culpar rebanhos pelo aquecimento



SÃO PAULO – Pesquisador afirma que diminuir o consumo de carne e laticínios não traz impacto real no combate ao aquecimento global.

A conclusão foi apresentada no início da semana durante o 239º  Encontro Nacional da Sociedade Americana de Química.



Apesar das alegações de que a criação de animais gera muitos gases causadores do efeito estufa, o perito em qualidade do ar, Dr. Frank Mitloehner, da Universidade da Califórnia-Davis, disse que culpar vacas e porcos é cientificamente errado e impede que a sociedade foque em soluções efetivas para combater o problema.

Para ele, cortar o consumo de leite e carne significaria apenas mais fome em países pobres – e não diminuição do aquecimento. O foco deveria ser em agricultura e pecuária inteligente, adotando praticas para produzir mais comida com menos emissões.

A principal medida, no entanto, seria reduzir o uso de petróleo e carvão para eletricidade, aquecimento e combustível, já que, segundo ele, os meios de transporte causam 26% de todas as emissões-estufa nos Estados Unidos, enquanto a criação de gado e porco gera apenas 3%.

Ele afirmou ainda que essa opinião contrários à carne vem de um erro cometido no relatório das Nações Unidas de 2006 chamado "Livestock's Long Shadow". Nele, dizia-se que a criação de animais era responsável por 18% dos gases causadores do efeito estufa - o que seria mais do que os transportes.

No entanto, apesar dos animais serem grandes liberadores de metano, Mitloehner acredita que houve um erro na metodologia utilizada na época. As emissões dos rebanhos foram calculadas de forma diferente das do transporte. Os dados dos animais incluíam sua alimentação, suas emissões digestivas  e o processamento da carne em comida. Mas na análise do transporte estavam incluídas apenas as emissões de combustíveis pelos veículos, e não todo o ciclo do transporte do combustível e retirada do petróleo.
 INFO Online

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