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julho 14, 2010

Dez dias de cura para o crude

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Desde o início do derrame, já foram recolhidas 2802 aves "petroleadas", 1731 das quais já mortas, nos centros de recuperação. João Brandão, 28 anos e a viver em Boston, conhece bem os meandros deste palco de operações. O veterinário português tratou das aves que deram à costa portuguesa, "petroleadas" pelo derrame do Prestige, em Novembro de 2002, ao largo da Galiza.



Foto: Hans Derik/Reuters
Um pelicano-castanho toma banho num centro de reabilitação em Fort Jackson


"Uma ave "petroleada" perde a capacidade de regular a temperatura, pode entrar em hipotermia ou hipertermia", explicou.



João Brandão fez o estágio do curso no Centro de Investigação Internacional para o Resgate de Aves na Califórnia e explica que nos EUA, ao contrário da Europa, existem procedimentos uniformizados para tratar destes animais.

Quando as aves chegam aos centros de recuperação, a primeira coisa a fazer, explica, é avaliar o seu estado de saúde: pesar, tirar a temperatura e verificar a percentagem do corpo com crude. Os animais são mantidos numa zona "suja" durante 48 horas, onde lhes dão alimento e fluidos para fortalecerem e expelirem o crude que ingeriram. Se melhorarem, são lavados - passam por uma série de alguidares com detergente até não haver vestígio de crude na água. Depois é utilizada água com pressão para tirar o detergente. Na última etapa, quando as aves estão secas, colocam-se numa piscina onde se verifica o estado de impermeabilidade das penas. Se tudo correr bem, dez dias chegam para as aves voltarem para a natureza, diz João Brandão.

É fundamental que as aves sejam libertadas longe do derrame. "Na altura do Prestige puseram os animais no estuário do Tejo e do Sado, mas não se controla se eles voltam para a região do derrame."

Este é um processo longo e com custos. "Tem que ser uma gestão de meios, perceber se vale a pena manter cada animal no centro durante tanto tempo", disse o veterinário, que é interno na Universidade de Tufts, Massachusetts (EUA), em medicina de animais exóticos.

Aos centros de recolhimento também chegam tartarugas e mamíferos. Até agora já foram resgatadas 643 tartarugas, 454 mortas e 63 mamíferos, 58 já sem vida.

Mas os trabalhos no golfo do México não se limitam aos animais "petroleados". Existem equipas no terreno a tentar saber mais sobre o impacto desta maré negra no ecossistema. A equipa de Aaron Rice, do Cornell Lab of Ornithology, é uma delas.

Os investigadores, a bordo de um navio da NOAA (Administração Oceanográfica e Atmosférica norte-americana), já estão a lançar às águas do golfo 22 unidades de registo de sons para saber se as duas espécies de baleias que são mais observadas no golfo do México - o cachalote e a baleia-de-bryde - conseguem sobreviver em zonas afectadas pela maré negra e se as suas vocalizações sofreram alterações.

"As unidades estão a ser distribuídas entre 25 e cem quilómetros de distância umas das outras, a profundidades entre os 700 e os mil metros", tanto em zonas afectadas pelo crude como em zonas intactas, explicou o investigador. "As unidades vão registar sons durante 90 dias, e serão levadas para Cornell a fim de serem analisadas. Contamos ter as primeiras conclusões no final de Novembro", adiantou ao P2.

O objectivo do investigador é reunir os dados num relatório técnico para entregar a Governos e decisores políticos a fim de, se for caso disso, reavaliar as práticas actuais.
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